Mais de 200 artistas em Portugal apelam ao boicote do Festival da Eurovisão caso Israel participe no evento
O músico Sérgio Godinho, o radialista Nuno Calado e o artista Bordalo II estão entre os artistas, associações e trabalhadores da cultura que apelaram hoje ao boicote do Festival da Eurovisão — a ter lugar a 11 de maio na Suécia — caso Israel participe no evento.
Numa carta dirigida à RTP, responsável pelo concurso em Portugal, os subscritores — onde se incluem os músicos Benjamim (que integrou o júri das semifinais do Festival da Canção) e Cristina Clara (uma das finalistas da presente edição do Festival da Canção) — pedem à emissora pública que exija, da European Broadcasting Union (EBU), entidade organizadora do Festival da Eurovisão, a proibição da “participação de Israel no evento até que Israel respeite o direito internacional, ou que, em caso de recusa [da EBU], boicote o Festival.”
Entre os subscritores contam-se personalidades dos mais diversos campos artísticos, como os cineastas Sérgio Tréfaut, Cláudia Varejão e Catarina Vasconcelos, o criador de moda Nuno Baltazar, o humorista Diogo Faro, e também a editora Cafetra ou a Associação A Música Portuguesa A Gostar Dela Própria, do realizador Tiago Pereira.
Esta iniciativa, promovida pelo Comité de Solidariedade com a Palestina, surge em resposta ao apelo palestiniano para o boicote à Eurovisão. Pela Europa fora os protestos contra a participação de Israel têm aumentado. Mais de 1400 artistas da Finlândia exigiram a exclusão de Israel enquanto que a Islândia pôs em causa a sua participação no Festival. Mais de mil artistas suecos, país anfitrião do Festival em 2024, denunciaram a hipocrisia do Festival por deixar Israel participar.
A carta aberta agora divulgada, assinada também pelas atrizes Carla Bolito e São José Lapa e pelos atores João Grosso e Miguel Nunes, aponta “para a hipocrisia da EBU, que baniu a Rússia no dia seguinte à sua invasão e ocupação da Ucrânia, mas que insiste na participação de Israel apesar da sua ocupação da Palestina e opressão do povo palestiniano que dura há mais de meio século.”
A declaração vem numa altura em que Israel tem acelerado os massacres contra o povo palestiniano, cometidos com total impunidade e com o apoio dos governos europeus. O Tribunal Penal Internacional advertiu recentemente estarmos perante um “plausível” crime de genocício por parte de Israel contra o povo palestiniano em Gaza. Os signatários pretendem, conforme escrevem, quebrar “o silêncio que impregna a maioria das instituições culturais do país em relação ao genocídio em curso do Estado de Israel contra a população palestiniana.”
Como parte do seu genocídio cultural, “Israel matou artistas, escritores e poetas, destruiu ou danificou um património histórico singular, como a mesquita de al-Omari do século XIV, a igreja de São Porfírio, a terceira mais antiga do mundo, o Museum Nacional de Gaza com mais de 3.000 antiguidades raras, assim como centros culturais, teatros e bibliotecas,” destacam os assinantes. A carta, subscrita ainda pelo músico Tó Trips e pela coreógrafa Carlota Lagido, entre outros, conclui com um convite a que “pessoas, associações e outros colectivos do sector artístico e cultural português” se juntem e assinem a mesma, ”comprometendo-se a recusar colaborações com instituições culturais cúmplices israelitas ou a atuar em Israel, e apoiando a luta pela justiça e autodeterminação do povo palestiniano, reconhecendo que é o seu próprio direito à existência que está a ser negado por Israel.”