Goethe-Institut promove festival para juntar vozes no debate sobre habitação
O festival “Uma revolução assim”, iniciativa do Goethe-Institut Portugal que vai decorrer em setembro e outubro, quer criar uma plataforma para “as várias vozes que têm alguma coisa para dizer” sobre a crise na habitação.
O tiro de partida do festival “Uma revolução assim – luta e ficção: a questão da habitação” – que irá acontecer em Lisboa, entre 25 de setembro e 6 de outubro – foi dado na segunda-feira, com uma assembleia geral que juntou cerca de 70 participantes na Culturgest – Fundação Caixa Geral de Depósitos, parceira do festival.
Arquitetos, ativistas, investigadores e criadores partilharam várias iniciativas e projetos.
“Queríamos muito fazer uma iniciativa perto das pessoas, para falar sobre uma crise que é muito pertinente neste momento”, explicou à Lusa Julia Klein, coordenadora do festival e programadora cultural do Goethe-Institut Portugal, antes da assembleia.
O Goethe – que tem convidado regularmente instituições e artistas a utilizarem os seus espaços para criar, com o objetivo de ser um sítio “mais vivido” – não espera “mudar a situação”, mas quer contribuir para isso juntando “montes de gente que está a trabalhar e a lutar” pelo direito à habitação.
“Seria ótimo se pudéssemos criar mais sinergias e trabalharmos em conjunto e ver o que é possível fazer, pensar, refletir [sobre] quais são as hipóteses ou alternativas”, considera.
Também em declarações à Lusa antes da assembleia, Julia Albani, curadora do festival e crítica de arquitetura, sublinhou que há “uma crise da habitação, de falta de habitação, mas também uma crise do habitar”, sendo importante criar uma plataforma que permita ao público em geral entrar na conversa sobre o tema.
“Temos que falar. E não temos que falar em vários grupos separados, mas temos que também ter um diálogo com o público, porque o público é que precisa de casas, precisa de acesso a preços acessíveis”, reflete.
A assembleia geral de segunda-feira foi o tiro de partida. A abrir as intervenções, o arquiteto Tiago Mota Saraiva centrou o debate nas questões da propriedade e das formas de produção. “Fomos convencidos de que não há casa para a vida”, lembrou.
Várias organizações marcaram presença no encontro, por exemplo o Movimento Referendo pela Habitação, que pretende mobilizar a população de Lisboa para reivindicar uma consulta popular local pelo direito a ter casa.
“Se não temos casas para habitar, não devíamos tê-las para a especulação e o turismo. Primeiro para viver”, defendeu uma das suas representantes, enquanto outra segurava um cartaz onde se lia “Assina aqui o Referendo pela Habitação”.
Igualmente presente, o movimento Casa é um Direito relatou os testemunhos que tem reunido.
“Isto é um problema coletivo, há milhares de pessoas nesta situação”, assinalou um dos seus representantes.
“Lisboa, ou o centro de Lisboa, já perdeu imensa qualidade ao nível da vizinhança e da vida de bairro. Quem está a participar na vida quotidiana em Lisboa são os turistas, são as pessoas de fora, é o mercado, é o capitalismo que está agora a jogar nesta cidade”, realçou Julia Albani.
O festival, com que o Goethe-Institut Portugal assinala os 50 anos do 25 de Abril, vai propor várias sessões ao longo das duas semanas, “diálogos macro e micro” na Grande Lisboa.
“Organizadas em pequenos manifestos”, as sessões resultarão em documentos contendo “o que o público e a população na Grande Lisboa precisam e querem”, explicou a curadora, adiantando que os “manifestos” serão depois partilhados com a autarquia da capital, com quem a organização do festival vai “tentar trabalhar de perto”.
Entre outras iniciativas, haverá um ‘podcast’ temático e um arquivo acessível de história oral sobre “o que é uma casa”, já estando em curso um documentário que está a acompanhar várias cooperativas, para “mostrar o lado positivo, construtivo”, que terá estreia na abertura do festival, que conta com a participação artística de Nuno Cera.