“Em Angola temos ruas com os nomes de Salazar e Marcelo Caetano e isso é inadmissível”, refere Rafael Marques
O jornalista e ativista angolano Rafael Marques considerou hoje “uma vergonha” o Governo angolano permitir a manutenção de símbolos do fascismo e requereu a mudança de designação das ruas Salazar e Marcelo Caetano, na província do Bié.
Em declarações à Lusa, o diretor do portal Maka Angola disse que “é uma vergonha nacional o Presidente da República, João Lourenço ir a Portugal, como convidado de honra para a celebração dos 50 aos da queda do fascismo em Portugal, quando em Angola o seu Governo permite a manutenção dos principais símbolos do fascismo e do colonialismo português”.
“Temos ruas em vários pontos do país com os nomes de Salazar e Marcelo Caetano e isso é inadmissível”, vincou.
É o caso do Cuíto (planalto central, capital do Bié), “uma cidade que foi bastante fustigada pela guerra” e onde se mantêm duas ruas que ostentam os nomes dos ex-primeiro-ministros, o que levou à entrega hoje de um requerimento dirigido ao governador provincial do Bié, pedindo a “alteração de topónimos referentes a ditadores portugueses”.
No requerimento a que a Lusa teve acesso, Rafael Marques de Morais critica a toponímia associada aos “maiores símbolos da repressão colonial e do fascismo português”, assinalando que foi “Salazar quem mandou a tropa portuguesa aplacar os desejos de independência de Angola, quem mandou bombardear, queimar e matar” e que Marcelo Caetano, “manteve a guerra”, até ser derrubado pelos militares portugueses em 25 de abril de 1974.
“Que sentido faz o Governo e o bravo povo do Bié manterem a homenagem aos dois ditadores coloniais que mais lutaram contra a independência de Angola e maltrataram o povo angolano?”, questiona o ativista no requerimento, considerando que a existência destas ruas “tem reflexos negativos no interesse dos angolanos, é eticamente incorreta e ofende a moral pública”.
“Nós temos tantas figuras que merecem ser honradas, nacionalistas, artistas, homens de cultura, mulheres de cultura, e essas pessoas não são celebradas”, lamentou o ativista.
Portugal e Angola têm uma história de 500 anos “durante a qual muitos portugueses contribuíram para o bem dos angolanos”, afirmou, para depois ressalvar: “mas não vamos celebrar aqueles que mos castigaram, que nos colonizaram, que nos amordaçaram, que nos perseguiram”.
O ativista referiu que há muitas figuras portuguesas, angolanas, internacionais que merecem ser celebradas, sugerindo que o nome do ex-Presidente português Mário Soares poderia ser uma destas, argumentando que contribuiu para a descolonização de Angola.
Sobre a existência de toponímia ligada a figuras de outros movimentos nacionalistas como o líder da UNITA, Jonas Savimbi, adiantou que o anterior Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, tinha criado uma comissão para incluir figuras da oposição na toponímia nacional: “Este projeto não foi adiante e penso que hoje temos um Governo que só se preocupa com o enriquecimento dos seus próprios membros e não se preocupa com estas questões que são fundamentais na afirmação da identidade angolana e para dar algum conforto aos angolanos sobre o rumo que o país está a tomar”, declarou à Lusa.
“Parece que estamos a navegar à deriva e que temos de chamar outra vez um navegador português para nos arranjar um rumo”, ironizou.