Bárbara Tinoco e Carolina Deslandes editam “A madrugada que eu esperava”, disco junta “vozes da revolução e do presente”
As cantoras Bárbara Tinoco e Carolina Deslandes editam este mês o álbum “A madrugada que eu esperava”, que conta com convidados como Sérgio Godinho, Paulo de Carvalho e Luísa Sobral e tem canções do musical que ambas criaram.
De acordo com o agenciamento das duas artistas, o álbum, que é editado em 25 de abril, é composto por 17 canções “que juntam as vozes da revolução e do presente”.
“Sérgio Godinho, Paulo de Carvalho, Luísa Sobral, Filipe Melo, Salvador Sobral, Rita Rocha, Tatanka, Tiago Nogueira, Buba Espinho e Diogo Branco são os convidados deste longa-duração que mais do que um disco é uma ode à liberdade, no ano que em se celebram 50 anos da Revolução dos Cravos”, lê-se num comunicado enviado à agência Lusa.
O álbum “A madrugada que eu esperava” resulta do musical homónimo, criado por Bárbara Tinoco e Carolina Deslandes, que se estreou em 14 de fevereiro no Teatro Maria Matos, em Lisboa, e estará ali em cena até 28 de abril. O musical é depois apresentado no Porto, em 30 e 31 de maio no Coliseu.
Além dos 13 temas interpretados em palco, o álbum inclui quatro canções inéditas compostas para o mesmo propósito, mas que acabaram por ficar fora do espetáculo.
Colegas de profissão, mas acima de tudo grandes amigas, Carolina Deslandes e Bárbara Tinoco tinham vontade de criarem juntas um musical, “a primeira ideia” que tiveram para um projeto conjunto.
Inicialmente não tinham ideia para a história, mas uma certeza: que o escritor Hugo Gonçalves fosse o responsável pelo texto.
O escritor, que quando o convite surgiu tinha acabado de terminar o romance “Revolução” – editado em outubro, cuja história se desenrola na altura do 25 de Abril de 1974 – e estava, por isso, com a Revolução dos Cravos fresca na mente, acabou por criar uma “história clássica ‘boy meets girl’ [rapaz conhece rapariga], a que os escritores e os dramaturgos voltam constantemente”.
Os protagonistas – Olívia e Francisco – vivem uma história de amor proibida e, através dela, “reflete-se o espírito do tempo e mostra-se como é que era viver antes do 25 de Abril [de 1974] e também durante aquele período revolucionário, que foi um período bastante intenso”, contou o escritor à Lusa aquando da estreia do musical.
No espetáculo, com encenação de Ricardo da Rocha, Carolina Deslandes e Bárbara Tinoco vão alternando os papéis de Olívia, a protagonista, e Clara, a sua irmã. Diogo Branco, que é também músico, interpreta Francisco.
Do elenco da peça fazem ainda parte Brienne Keller, Dinarte Branco, JP Costa, João Maria Pinto, Jorge Mourato, José Lobo, Maria Henrique, Mariana Lencastre e os músicos Feodor Bivol, Luís Delgado, Marco Pombinho, Miguel Casais, Rui Pedro Pity e Sandra Martins, que estão em palco a tocar ao vivo durante o espetáculo.
O álbum inclui os instrumentais gravados em estúdio, tal como apresentados em cena pelos músicos, com a contribuição das guitarras de Diogo Clemente e Pedro Mourato.
No espetáculo “A madrugada que eu esperava” – verso extraído de um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen -, a história desenrola-se sobretudo entre 1971 e 1975, mas no final o tempo salta para 2024, o ano em que se comemoram 50 anos da revolução.
Fica a saber-se para onde a vida levou Olívia e Francisco e é desta parte do espetáculo que Hugo Gonçalves e Bárbara Tinoco destacam uma frase dita pela protagonista: “o direito da Liberdade implica o dever da memória”.
“Quando esquecemos o passado arriscamos a repetir esses erros no presente. Se pudermos lembrar, de alguma forma, como era viver antes da revolução e como era o país, além do entretenimento que estamos a dar às pessoas, estamos a fazer um bom trabalho”, referiu o autor do texto.
Bárbara Tinoco considera que este musical “é o dever da memória, que explica o direito à liberdade”.
“É um espetáculo familiar, em que os mais velhos se podem emocionar, e os mais novos podem perceber a importância de votar, a importância de terem interesse nos assuntos políticos do país”, disse, lembrando que ela e Carolina, como tantos outros jovens, já cresceram sem questionar a liberdade.
A cantora reforça que os protagonistas da peça “não tinham liberdade e estão o tempo todo a pensar como vão chegar a ela”. “A Olívia estava empenhada em que toda a gente pudesse ter liberdade. Hoje em dia, 50 anos depois, é importante gritar ‘Fascismo nunca mais!’ e isso dá que pensar”, referiu.
Carolina Deslandes lembra que “se não tivesse havido 25 de Abril esta peça não existia”, que provavelmente não podia dizer as coisas que diz (a cantora já assumiu publicamente posições sobre temas como os direitos das mulheres, o racismo ou a habitação), e que Bárbara Tinoco “não podia ter uma canção como ‘Despedida de Solteira’, por exemplo”, ou as duas não poderiam apresentar-se em palco da maneira que entendem.
“Foi preciso gente lutar e sacrificar-se para que pudéssemos estar aqui hoje, e isso não pode nunca ser tido como uma coisa entre os milhares de coisas que acontecem no dia-a-dia. Este foi o grande acontecimento que mudou a história do nosso país, e eu não gostava nada de vê-lo a [ter que] acontecer outra vez”, salientou Carolina Deslandes.