Teatro de S. Carlos estreia “Falstaff”, última ópera de Verdi

por Lusa,    11 Maio, 2024
Teatro de S. Carlos estreia “Falstaff”, última ópera de Verdi
Fotografia de Teatro Nacional de S. Carlos (TNSC)

A ópera “Falstaff”, de Verdi, a última criação do compositor, é também a última a subir ao palco do Teatro Nacional de S. Carlos (TNSC), em Lisboa, antes de o edifício entrar em obras de restauro, este verão.

A estreia desta obra “cintilante e imparável”, como o Teatro Nacional de São Carlos a define, está marcada para sábado e ficará em cartaz até dia 17. 

“Falstaff” conta com encenação de Jacopo Spirei, que no início da temporada já dirigira “Madama Butterfly”, de Giacomo Puccini, e cenografia de Nikolaus Webern, nome comum aos pricipais teatros de ópera de Áustria e Alemanha, em particular.

Ópera cómica, que satiriza sobretudo a burguesia do século romântico que Verdi dominara com os seus dramas, “Fallstaff” retoma textos de William Shakespeare, designadamente de “As Alegres Comadres de Windsor”, cujo título é citado numa das árias, e cenas das peças “Henrique IV” e “Henrique V”, num enredo trabalhado por Arrigo Boito, que já trabalhara com Giusseppe Verdi (1813-1901) em anteriores criações.

É aliás de Boito, uma das mais célebres citações associadas à estreia da ópera, numa carta dirigida ao compositor: “É melhor pôr fim a uma carreira com uma poderosa gargalhada, do que com os lamentos do coração humano.” Antes “Falstaff”, para a despedida dos palcos, do que “Othello”, dizia o escritor, autor do libreto, na terceira ópera do compositor italiano, inspirada no Bardo inglês.

Para o encenador da versão que agora tem estreia portuguesa, Jacopo Spirei, é um “prazer estar de volta” a um teatro onde gosta de trabalhar, para mais encenando uma das “obras de arte” de Verdi, uma ‘commedia lirica’ que terminava “uma produção marcada por intensíssimas tragédias”, como o próprio programa do S. Carlos destaca.

Trata-se de “uma ópera plena de atualidade”, assegurou o encenador à agência Lusa. Daí a introdução em cena de objetos como telemóveis, semáforos, computadores, uma fotografia de Isabell II de Inglaterra, além dos figurinos contemporâneos.

O ambiente britânico é uma constante nesta encenação, indo ao encontro dos propósitos de Verdi, que não queria que a ação operática se passasse no seu país, Itália, disse à Lusa Jacopo Spirei.

O espectador quando entra na sala do S. Carlos é confrontado com a “Union Jack”, como telão, que se mantém presente no desenrolar da ópera.

Para o encenador esta ópera conta “a história do nascimento de uma nova classe social, a burguesia”. “É uma ópera de intrigas e boatos”, no seu enredo mas, acima de tudo, “uma ópera sobre liberdade.”

A derradeira ópera de Verdi “é cínica, alegre e triste, mas este velho Falstaff vê na juventude um brilhante futuro no qual não participará”, explica Siprei. Falstaff, porém, “não vê isso com amargura”, o que “é uma grande conquista.”

Este facto não só marca a modernidade da ópera, no seu tempo, como a sua perenidade.

A estreia, em 1893 no Scala de Milão, foi recebida em apoteose. Mas “Falstaff” não manteria a popularidade dos outros títulos verdianos, recorda o texto de apresentação do Teatro Nacional de S. Carlos. “Era uma obra desconcertante, em que o público não reconhecia as empolgantes árias, os coros e os grandes finais que tinham marcado toda a produção do mestre”. Na prática, Verdi propunha “uma modernidade quase radical.” 

“Falstaff” chegou pela primeira vez a Portugal no ano seguinte, ao Teatro de S. Carlos, também protagonizada pelo barítono Victor Maurel, à semelhança da estreia. Em 2001, o teatro lírico português assinalou os cem anos da morte de Verdi levando a cena a sua derradeira ópera.

“‘Falstaff’ é uma obra cintilante e imparável”, conclui o texto de apresentação divulgado pelo teatro, citando o crítico e musicólogo britânico Richard Osborne: “‘Falstaff’ é o apogeu da comédia em música (…), inspirada no maior dramaturgo e escrita pelo maior compositor de ópera que o mundo já conheceu.”

A direção musical deste regresso a “Falstaff” é de Antonio Pirolli, à frente da Orquestra Sinfónica Portuguesa e do Coro do Teatro Nacional de São Carlos, que tem em Giampaolo Vessella o maestro titular. 

O elenco é constituído por Pietro Spagnoli, no papel de Sir John Falstaff, Dora Rodrigues, André Baleiro, Rita Marques, Maria Luísa de Freitas, Cátia Moreso, Michele Angelini, Marco Alves dos Santos, Leonel Pinheiro e Miguel Ángel Zapater.

A estreia de “Falstaff”, no sábado, acontece às 20:00, à semelhança das récitas nos dias 13, 15 e 17 de maio. No dia 19, o espetáculo tem início marcado para as 16:00.

As récitas são precedidas, 30 minutos antes, por uma palestra pela musicóloga Luísa Cymbron, no salão nobre o teatro, numa sessão de “Breves palavras” sobre o compositor, a música, a ópera e o seu contexto de criação.

As notas de programa resultam de uma parceria entre o Teatro Nacional de S. Carlos e o Departamento de Ciências Musicais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa, “que compreende a produção de textos científicos e académicos para enquadramento da temporada lírica, e que será em breve alargada a outras áreas.”

O Teatro Nacional de São Carlos encerrerá para obras, a decorrerem no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, depois de terminado o Festival ao Largo.

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