Museu Nacional Resistência e Liberdade quer criar rede de museus pela democracia
O Museu Nacional Resistência e Liberdade realizou ontem um fórum com o objetivo de criar uma rede de museus dedicado à resistência e oposição à ditadura portuguesa e criar estratégias para combater novas ameaças aos valores de liberdade e democracia.
O fórum, intitulado “Uma rede de museus e lugares de memória da oposição e da resistência à ditadura portuguesa”, foi criado com o objetivo de elaborar um documento orientador para a criação de uma futura rede que reúna museus, arquivos, associações, fundações e projetos relacionados à resistência e oposição ao regime ditatorial em Portugal.
Além disso, o fórum foi igualmente concebido para refletir e criar condições de debate sobre a importância de preservar a democracia, definindo boas práticas e ações de conscientização e educação sobre valores como a liberdade e a resistência.
A diretora do Museu Nacional Resistência e Liberdade (MNRL), Aida Rechena, disse, em declarações à Lusa, que os museus têm o papel de preservar as memórias daqueles que lutaram pela liberdade e de conscientizar as novas gerações sobre a importância dessas lutas.
“Eu acho que este tipo de museus, relacionados com a resistência à repressão e às ditaduras, tem de continuar a desenvolver atividades de conscientização para alertar que a liberdade e a democracia não são valores adquiridos. E esse é um objetivo que o MNRL tem: desenvolver atividades que preservem a memória e consciencializar que existiu uma ditadura em Portugal, para tentar evitar que uma situação destas se repita”, explicou.
Segundo Aida Rechena, os museus devem direcionar as suas atividades para a sociedade atual e abordar questões contemporâneas, como o avanço da extrema-direita, para permanecerem relevantes.
“Temos que direcionar as nossas atividades para a sociedade atual e tentar perceber qual o impacto que temos na sociedade atual, de outra forma não faz sentido os museus estarem a funcionar”, afirmou.
“Os museus têm que estar vocacionados para a contemporaneidade e a extrema-direita é algo que deve ser abordado por estes museus e por esta rede de museus”, acrescentou.
No fórum, que decorreu no Centro Humberto Delgado, em Torres Novas, distrito de Santarém, não só foram realizadas diversos debates sobre a criação de uma futura rede, mas também as atividades concretas que irão ser desenvolvidas por essa rede.
Aida Rechena disse ainda que o Museu Nacional Resistência e Liberdade, que foi inaugurado no passado dia 27 de abril – quando passaram 50 anos sobre a libertação dos presos políticos em Portugal -, tem tido uma grande afluência de visitantes, incluindo escolas, gerações anteriores ao 25 de Abril e turistas estrangeiros, o que “demonstra o interesse pela história da resistência em Portugal”.
“Estes espaços são valorizados e prova disso é a quantidade enorme de visitantes que têm entrado no museu em apenas um mês de funcionamento. Temos tido uma afluência enorme, e há um interesse muito grande” afirmou.
O evento contou com representantes da International Coalition of Sites of Conscience, rede global que agrega mais de 200 entidades que preservam a memória da resistência às ditaduras e da luta pela liberdade, entre museus e sítios de homenagem, uma entidade afiliada no Conselho Internacional de Museus (ICOM, na sigla em inglês) e que tem estatuto consultivo no Conselho Económico e Social das Nações Unidas.
O Museu de Aljube, em Lisboa, o Movimento “não apaguem a memória”, a União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), a Fundação Mário Soares, o Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória da Universidade do Porto (CITCEM), a rede de museus da Médio Tejo e as câmaras de Odivelas, Beja, Marinha Grande, Santarém, Sertã e Grândola foram outros participantes neste fórum.