Museu Soares dos Reis abre exposição de homenagem ao “embrião de Serralves”
O Museu Soares do Reis, no Porto, inaugura hoje uma “exposição homenagem” à “forma poética” como viriam a emergir “o embrião de Serralves” e uma nova etapa da vida cultural portuense, com a proclamação da morte do museu, em 1974.
“Centro de Arte Contemporânea – 50 anos: A Democratização Vivida”, com curadoria de Miguel von Hafe Pérez, recorda a ação de rua que em 10 de julho de 1974 proclamou a morte do velho Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR) – “O museu está morto. Viva o museu!”, era a palavra de ordem agora impressa num cartaz à entrada da exposição – e evoca a história do Centro de Arte Contemporânea (CAC), embrião da Fundação de Serralves e do Museu de Arte Contemporânea, que ficou instalado no Soares dos Reis.
Numa visita guiada, o curador explicou à agência Lusa que, com esta exposição, quis homenagear o trabalho do CAC, nascido dois anos depois do “Enterro do Museu Soares dos Reis”, e quem esteve à frente da sua criação, os historiadores de arte Fernando Pernes e Etheline Rosas e o professor e galerista Mário Teixeira da Silva.
Com a mostra, que fica patente até dia 29 de dezembro, Miguel Von Hafe Pérez quis “revisitar a história” daquela “aventura primordial no contexto institucional português, recriando alguns dos seus momentos expositivos”.
“Por uma razão histórica e de uma forma absolutamente poética, talvez um dos únicos casos em que aconteceu assim, o CAC nasceu de uma reivindicação popular, numa altura em que o contexto institucional em Portugal era deficitário, em que o Estado quase se tinha demitido do apoio à arte contemporânea”, explicou o curador, que recusou o convite para compor esta exposição por três vezes, mas que, ao quarto convite, “pensou melhor e viu que fazia sentido”.
No Porto, contextualizou, “havia uma instituição com relevância, a Cooperativa Árvore, que se associou a outras associações culturais da cidade, como o Cineclube, o Teatro Experimental do Porto, a Seiva Trupe, que, de uma forma muito feliz, desenharam uma estratégia que passou por declarar o enterro do Museu Soares dos Reis”.
“Essa ação levou a que a diretora do museu percebesse que a pressão da rua não ia arrefecer e aceitou conceder espaço para esta abertura à contemporaneidade e a primeira exposição do CAC foi uma espécie de manifesto para mostrar o que no Porto se fazia, um ‘statement’ muito claro a dizer que a cidade estava aberta à contemporaneidade”, disse.
À Lusa, o diretor do MNSR, Alberto Ponte, explicou que esta exposição “tinha de acontecer este ano” e que “tinha que ser feita” por Miguel Von Hafe Pérez.
“Desde que em 2021 começámos a reprogramar o Museu tivemos a noção de que o Museu tinha de refletir sobre si próprio e o CAC será, provavelmente, o último grande momento de incorporação de coleções, que marcou não só a história do Museu como da cidade”, disse.
A obrigatoriedade de ter de ser Miguel Von Hafe Pérez a encabeçar o projeto, explicou, liga-se ao facto do curador ter feito em Serralves a exposição “Pré/Pós – Declinações visuais do 25 de Abril”, o que, disse, “foi fundamental para a fluidez das duas expiações e para elas não colidirem mas sim serem complementares”.
Pela ala do Museu Nacional Soares dos Reis dedicada à contemporaneidade, estão expostas 144 obras de arte e mais de 250 peças documentais e gráficas, como cartazes, convites, catálogo e fotografias de 67 artistas, entre os quais Alberto Carneiro, Ângelo de Sousa, Álvaro Lapa, Júlio Pomar, Emília Nadal, Eduardo Nery, Nadir Afonso, Paula Rego e Fernando Lanhas.