Fausto “inventou uma estética muito própria” o que faz dele “alguém muito identitário”, diz Sérgio Godinho
O cantor e escritor Sérgio Godinho lamentou hoje a morte de Fausto, considerando que o músico e compositor “inventou uma estética muito própria” o que faz dele “alguém muito identitário”.
“O desaparecimento do Fausto é um acontecimento muito triste embora infelizmente esperado”, disse o cantor e escritor à agência Lusa, admitindo saber que Fausto se encontrava doente. “Era um grande criador, intérprete, criador de letras e músicas e criou um universo próprio, muito pessoal e muito personalizado. A gente consegue dizer aquela canção é do Fausto porque de facto ele tinha um carimbo”, frisou.
Para Sérgio Godinho, Fausto “deixou uma marca muito, muito forte na música portuguesa”.
“Ele, de certo modo, inventou uma estética própria muito inspirada na música popular, na música de raiz, também e não só na popular portuguesa, e ele próprio seguiu essa cartilha que criou. Isso faz dele alguém muito identitário”, acrescentou a propósito.
Sérgio Godinho reiterou ainda que a “grande obra, a obra-prima” de Fausto foi “Por este Rio Acima”, um disco “muito conceptual, que não é algo que costuma acontecer, é até raro acontecer”
Um trabalho com um “som muito próprio e muito inspirado”, porque Fausto Bordalo Dias “era um compositor muito inspirado”, com “belíssimas canções”, “muito fortes que retratam também uma maneira muito forte de estar no mundo, muito portuguesa”.
Fausto era ainda “muito bom a tocar guitarra acústica”, lembrou Sérgio Godinho que logo após o 25 de Abril de 1974 privou de muito perto com o músico, por quem tinha “muita admiração”, também pela “maneira pessoal e complexa como tocava guitarra”.
O autor de “Os Sobreviventes” lembrou ainda a aventura a três com José Mário Branco e Fausto – o projeto “Três Cantos” – que, em 2009, reuniu os três para quatro concertos, dois no Campo Pequeno, em Lisboa, e dois no Coliseu do Porto, e que mais tarde daria origem a um álbum, a partir desses concertos ao vivo.
“Ensaiámos muito, durante muito tempo, um grupo de 18 músicos”, numa “aventura muito intensa em que nos empenhámos muito”, lembrou.
“Havia uma intensidade ali muito particular, porque eram os nossos três universos a cruzarem-se”.
Questionado pela Lusa sobre se há uma música e uma canção portuguesa antes e depois de Fausto, Sérgio Godinho respondeu: “De certo modo, porque – lá está – ele criou uma estética própria, uma estética própria que seguiu muito essa cartilha que ele tinha criado”, sublinhou.
Sérgio Godinho lembrou ainda que Fausto tinha algo de perfeccionista e que trabalhava obsessivamente as canções até achar que estava tudo bem”.
Fausto Bordalo Dias, criador de “Por este Rio Acima”, morreu hoje de madrugada aos 75 anos, em casa, em Lisboa, vítima de doença prolongada.