Entrevista. Unknown Mortal Orchestra: “Sou muito iludido e demasiado romântico, mas encontrei o emprego certo para a minha personalidade”
Os Unknown Mortal Orchestra, um dos mais inesperados sucessos do indie rock, voltaram às edições de discos em 2023, com o seu quinto álbum, que tem o apropriado e simplista nome de V. Esse disco, focado em temas familiares e mais longo do que o normal, retém a aura lo-fi que sempre caracterizou a música da banda, desde o homónimo álbum lançado em 2011, mas com uma estrutura mais fluida que valoriza a improvisação e é indicada para longas viagens de carro — algo que Ruban Nielson, líder e criador do projecto, testou com o próprio irmão, Kody Nielson, que é também membro dos Unknown Mortal Orchestra.
Antes do próximo concerto da banda em Portugal, que acontecerá na edição deste ano do NOS Alive — no primeiro dia de certame, a 11 de Julho — tivemos a oportunidade de conversar com Ruban sobre o familiar e inconfundível som da banda, o inesperado sucesso que encontraram e até sobre partilhar demasiado contexto sobre as canções dos Unknown Mortal Orchestra.
Uma coisa sobre a qual sempre tive curiosidade: qual é a origem do nome da banda?
Foi uma espécie de nome provisório. Estava a carregar canções para o Bandcamp e foi algo casual. Pensei sobre a ideia de um nome que basicamente significasse “one man band” e que meio que fizesse chacota de mim mesmo. E acabou por ficar. Gosto da ideia de ter um nome longo.
É um bocado pesado, mas à medida que ficas mais velho, perdes amigos, avós… As pessoas morrem. Alguns amigos meus e um tio meu morreram no ano passado. Foram pessoas que deixaram a minha vida, mas eu continuava a ouvir as vozes deles na minha cabeça. Do género: quando algo acontecia, ouvia-os, ouvia a sua opinião… Ou melhor, é como se estivesse a adivinhar aquilo que eles pensariam. Por isso, quando as pessoas morrem, elas continuam a viver na tua cabeça. E quanto mais e mais velho ficas, mais e mais pessoas que amas morrem, e então tens todas estas pessoas a falar contigo.
Hoje em dia, penso no nome desta forma: a Unknown Mortal Orchestra [orquestra mortal desconhecida] são todas estas pessoas que amas que morreram, e o coro só vai ficando cada vez maior. Acho que todos experienciamos isso. Isso é o que Unknown Mortal Orchestra significa para mim agora, porque mais ninguém consegue ouvir as vozes excepto tu próprio.
Ganhou um novo significado. Isso é muito interessante.
Quando escrevo letras, títulos de canções e coisas assim, não sei aquilo que significam até mais tarde. Primeiro são uma espécie de associação livre ou surreal e depois, com o passar dos anos, é que entendo aquilo que significam. É uma coisa subconsciente; estás a dizer algo que tem significado — não é apenas aleatório — mas no momento não o compreendes. Eu meio que esvazio a minha cabeça, deixo que estas coisas saiam e depois entendo-as. Por isso, entender o nome da banda anos depois de o ter inventado parece-me bastante normal.
“Quando escrevo letras, títulos de canções e coisas assim, não sei aquilo que significam até mais tarde. Primeiro são uma espécie de associação livre ou surreal e depois, com o passar dos anos, é que entendo aquilo que significam.”
Olhando para o V, mais de um ano depois do seu lançamento, pensas que conseguiste atingir aquilo que esperavas para o álbum?
Penso que sim. Muito dele teve que ver com o COVID, porque estávamos a fazer uma pausa de digressões e a pandemia aconteceu durante essa pausa. Estava a passar muito tempo em Palm Springs, na Califórnia, porque tenho uma casa lá. Passei muito tempo sozinho com o meu equipamento, só sentado a fazer canções, enquanto a pandemia ficava cada vez mais longa. Chegou ao ponto em que pensei se o álbum alguma vez sairia ou sequer a minha banda existiria sequer, sabes? Tipo, existirão sequer bandas depois disto? Por isso, muito do que eu fiz foi começado sem algum conceito de se seria real ou não. Ou seja, se realmente estava a fazer um produto ou se estava só a fazer música sozinho, para mim mesmo, e que nunca sairia. Então, acumulei bastante trabalho e, depois, tentar convertê-lo num produto foi bastante difícil, porque tive de decidir qual era o tema do álbum e a maneira de o fazer funcionar do início ao fim. Tinham sido quatro anos de gravações, por isso simplesmente decidi o que ia entrar e o que não ia entrar. O meu irmão e eu fizemos com que as canções se ligassem todas, por isso, cada canção segue para a próxima e dá-lhe alguma coesão.
No final, o fio condutor parece-me bastante claro: é um álbum sobre família e sobre perda. É também um pouco tropical, surgiu-me com imagens de palmeiras na selva e coisas assim. É um álbum de clima quente. Nunca tinha feito um álbum com esse tipo de ambiente, por isso foi assim que o interpretei. No fim de contas, acho que deve ser um dos álbuns mais coesos no catálogo da banda, mesmo que no início estivesse tão confuso. Pensava: “Isto é tudo tão diferente, as coisas não combinam”, mas agora quando o escuto, parece-me muito natural.
Parece ter sido um grande regresso às tuas raízes, de alguma forma. Foi algo que não tinhas feito para os discos anteriores?
Estava a explorar uma espécie de rock de rádio. Um dos temas era guilty pleasures e bandas como os Journey ou os Toto, bandas que realmente gosto de ouvir, mas que não têm a reputação de serem fixes ou o que quer que seja. Nós estávamos a usar elementos do yacht rock na banda e então pareceu-nos natural investir totalmente em deixar estas influências criar uma espécie de singles de rock de rádio — ou pelo menos a minha interpretação disso, porque esse estilo de música é difícil de compor e foi um desafio interessante tentá-lo sequer. E claro, os músicos acham sempre que estão a fazer um álbum realmente diferente, mas quando o terminei, simplesmente soava a Unknown Mortal Orchestra (UMO). [risos] Mas é bom ter algo que parece ser um novo desafio, sabes? Acho que foi isso que acabou por ser. Passei muito tempo em climas amenos, por isso o tema foi algo do género “tristeza no paraíso”, sabes?
Sobre esse som específico da tua banda: no início era mais uma necessidade, devido à falta de equipamento profissional, não?
Sim, acho que simplesmente saiu assim. Suponho que esteja associado ao movimento lo-fi, que é, basicamente, coisas que soam estragadas. [risos] Fiz os primeiros dois álbuns sem dinheiro. Não tinha muito equipamento e muitas das coisas que usei foram compradas em lojas de segunda mão e coisas assim. Por isso sim, foi mais uma necessidade. Mas, à medida que continuei a trabalhar, comecei a trabalhar com editoras, a ganhar dinheiro e a poder comprar equipamento profissional, só para descobrir que preferia o som que tinha antes. Por isso agora sinto que, não importa o quão sofisticado o equipamento é, acabo sempre a fazer os discos soar a UMO. Soa sempre ao mesmo, de qualquer forma. Expandi o meu estúdio e comprei todos os meus equipamentos de sonho para depois me aperceber que era demais. Vendi muitos deles e reduzi tudo ao máximo para tentar voltar às minhas raízes.
Penso que cada álbum é uma nova tentativa de voltar ao início. Quero sempre manter-me fresco, como se a banda fosse nova. E sinto o mesmo relativamente aos espectáculos ao vivo, quero actuar como se fôssemos uma banda nova, quero manter essa forma de pensar. Estou a começar a trabalhar num álbum novo e é uma tentativa nova de regressar ao início. É sempre o mesmo, sabes? [risos]. Não sei porquê, mas é o que acontece.
Para chegares a esse som, tens de ajustar muitas coisas ou é algo que surge naturalmente?
Faço bastante dos dois. Às vezes, passo horas e horas, dias e dias, ou mesmo meses. Com o V, passei meses em canções, mas às vezes as coisas simplesmente saíam instantaneamente, por isso não há propriamente uma fórmula fixa. Por exemplo, há uma canção no V, chamada “That Life”, que aconteceu num dia. Eu simplesmente escrevi-a e gravei-a num dia, que é como a maioria do primeiro álbum foi feito. E depois há canções que demoraram três anos até que realmente estivesse feliz com elas. Respondi à tua pergunta? [risos]
Penso que sim. Estava só a questionar-me se era algo natural ou mais trabalhado.
É que, mesmo se eu gravar depressa, sai a soar ao mesmo. Às vezes, pessoas perguntam-me se estou interessado em mixar os seus álbuns. Mas cheguei ao ponto em que entendi que, à minha maneira, sou um mau mixer. Não é realmente útil para outras bandas que eu mixe os seus discos, porque vai soar a UMO e pode não fazer sentido que os álbuns soem a tal. Mas estou preso, tudo o que faço soa a UMO. Mas, por sorte, tenho um público que está interessado em ouvi-lo. Por isso tenho alguma sorte nesse sentido.
Como te sentes relativamente ao nível de sucesso que o projecto alcançou?
Penso que aprendi uma lição. Vivo nos EUA e sinto que há uma ideia nesse país que, se não projectares que és o melhor ou se não planeares dominar o mundo, então não acontecerá. E não conseguirás ser bem sucedido a não ser que te motives a ti mesmo como o Kanye West ou algo assim. Suponho que esta banda me ensinou que estou apenas a trabalhar muito arduamente e a tentar fazer a melhor música que posso. E não me preocupar demasiado com o futuro tem funcionado bastante bem para mim. Tenho-me focado em tentar manter as coisas tão inspiradas como quando comecei e isso parece ter-me mantido seguro.
Os meus sonhos mais loucos tornaram-se reais há oito anos [na altura do lançamento de Multi-Love], e na altura pensámos “e agora?”. Por isso simplesmente prosseguimos, só fazemos outro álbum e voltamos à estrada. Penso que, por ser da Nova Zelândia, cresci em circunstâncias bastante humildes, nunca tinha entendido realmente como o mundo real era. As minhas ambições eram bastante humildes. Sinto-me muito sortudo, mas também significa que não tenho planos para o futuro. Ou seja, já ultrapassei a minha imaginação de cidade pequena há muito tempo. Por isso, agora, suponho que qualquer coisa pode acontecer, já que consigo encontrar sucesso com este tipo de música. [risos]
O que é que achas que atrai pessoas à tua música? O que é que achas que procuram nela?
Se puder ser idealista sobre aquilo que espero que as pessoas gostem nela, tenho uma visão da forma como o mundo deve ser, da forma como as emoções nos devem fazer sentir e da forma como a música deve soar. Por exemplo, alguém faz um filme e, ao vê-lo, podes entender a maneira como a pessoa acha que o amor deve funcionar e pensas: “Ah, isso é muito bonito”. Idealmente, espero que seja isso, porque nunca consegui explicar a ninguém como me sinto relativamente ao mundo. Mas acho que as pessoas podem ouvir UMO e entender-me muito bem. Penso que há algo reconfortante sobre a forma como gostaria que o mundo fosse. De alguma forma, acho que sou muito iludido e demasiado romântico, mas encontrei o emprego certo para a minha personalidade. Espero que eu e o público nos encontremos numa espécie de meio caminho psíquico, em que ambos possamos desfrutar de uma ideia sobre como o amor ou o mundo ou o rock ‘n’ roll deveriam ser.
Quando tocas ao vivo, sentes que consegues conjurar o som e o ambiente dos teus álbuns?
Nós temos uma filosofia em que não usamos faixas de apoio nem nada disso. Por isso, não pode soar exactamente como no disco, vai soar como uma banda. Mas, ao mesmo tempo, a mesma obsessão que perseguimos em estúdio está definitivamente no nosso equipamento, desde a voz ao som da guitarra, à bateria… Temo-los ajustado ao longo dos anos para encontrar um equilíbrio entre algo que é espontâneo e algo que também passa a sensação de estar ligado aos discos que ouves, se gostas da nossa banda. É um desafio constante, o que é fixe. Alguns espectáculos podem ser surpreendentemente diferentes do disco, enquanto que noutros acertamos num lugar muito similar ao disco, mas há sempre uma sensação de liberdade. Não estamos presos a nenhumas regras, tentamos fazer as coisas de forma diferente todas as noites. Esse é o tipo de música de que gosto, a música ao vivo da era que adoro, do final dos anos 60 e dos anos 70. Há muita espontaneidade e é pré-computadores. Por isso, o espectáculo ao vivo não envolve nada de digital, de todo. É maioritariamente analógico. Sinto que a ideia é que pudéssemos fazê-lo [o espectáculo ao vivo] nos anos 70, é esse o sentimento ao qual almejamos.
Em entrevistas anteriores, particularmente no que toca ao Multi-Love [terceiro álbum da banda], tiveste alguns problemas com partilhar demais. No entanto, neste último álbum continuaste a mencionar bastantes detalhes da tua vida familiar. Achas que é vital partilhar esse contexto?
Penso que, às vezes, é verdadeiramente especial. Consegues quebrar a barreira de ser apenas um músico que é tipo um político, muito falso e que nunca é vulnerável, algo que acho que é uma coisa boa [ser vulnerável]. Tenho todo o direito de falar sobre mim e coisas que me aconteceram, mas quando envolvo outras pessoas da minha família, então estou a falar por elas e estou meio que a invadir a sua privacidade. Acho que isso foi algo que tentei evitar, porque não me tinha ocorrido que não é o meu direito puxar todas as pessoas da minha vida para a história só porque estou apaixonado pelo meu projecto e sinto que tudo deve servir o meu álbum. Por isso aprendi a lição. Sou um pouco mais reservado agora, mas também não quero chegar a um ponto em que não partilho nada, porque acho que às vezes é bom saber sobre o que é que as minhas canções são, porque às vezes são sobre coisas interessantes. Às vezes, um pouco de contexto faz com que a canção ganhe mais vida. Mas não quero exceder-me ou ser desrespeitoso, porque às vezes partilhar demasiado é embaraçoso.
Tornei-me um pouco sinónimo com a prática de poliamor [relativamente ao tema que permeou Multi-Love], mas acho que nunca fui realmente poliamoroso. Sabendo melhor o que é hoje em dia, acho só que a minha vida amorosa tem sido muito caótica. O poliamor é algo muito estruturado. Quando ouço pessoas falar sobre ele, penso: “A minha vida não é nada assim.” [risos]. É algo muito mais aleatório e confuso do que isso.
Por exemplo, sobre o V, um tio meu esteve doente e morreu no passado. Foi algo importante para mim, por isso às vezes mencionava-o. Mas os meus primos e a família do meu tio não querem que esteja por aí a partilhar a sua intimidade, por isso não o levei longe demais. Mas, ainda assim, queria mencioná-lo, porque acho que eles não se importariam que eu lhe prestasse um tributo e explicasse que foi uma influência para mim. Penso que, desde que o esteja a honrar, é uma boa ideia mencioná-lo.
Entre os teus últimos dois discos, tiveste muito tempo para descansar — algo que coincidiu com a pandemia. Ainda te sentes descansado? É algo que queres manter na tua carreira, dado que no passado disseste que te sentias esgotado pela vida de artista?
Penso que ainda estou a recuperar, mas já me sinto melhor. Está a demorar mais do que pensava, talvez por causa da minha idade ou talvez porque tenha tratado o meu corpo muito mal — bem, eu sei que tratei o meu corpo muito mal [risos]. Demorei algum tempo após a pandemia a recuperar a minha saúde, mas realmente estou a melhorar agora. Sinto-me bem com isso, sinto-me mais como o eu de antes, o que é um alívio muito bonito.
Neste momento, não quero demorar tanto entre discos. Estou muito determinado a tentar fazer um álbum muito bom e muito espontâneo que consiga terminar assim que possível, como os primeiros dois discos. Penso que, neste ponto da minha vida, isso parece-me mais divertido do que trabalhar demasiado ou pensar demasiado em tudo. Estou nesta mentalidade em que quero lançar um álbum o mais depressa possível. Nós íamos fazer uma digressão mais longa este ano, mas adiámos os nossos planos um pouco para podermos esperar, porque achei que, se fizer um álbum e lançá-lo depressa, poderemos voltar à estrada com um novo álbum e talvez voltar ao ritmo de lançar álbuns mais frequentemente. Porque cinco anos entre álbuns é muito estranho [como entre os últimos dois álbuns da banda, Sex & Food e V]. Lembro-me que, quando era mais novo, os Radiohead demoraram cinco anos a fazer o Kid A e pareceu-me um milhão de anos. É muito tempo.
Sim, e estão a demorar o seu tempo com o próximo também.
Sim, não quero fazer isso. Não quero envelhecer e que os meus álbuns demorem mais e mais tempo a sair. Não sinto bloqueios criativos. Quando me sento a escrever uma canção, as canções aparecem sempre. Não sou demasiado preciosista com isso. A minha editora não é preciosista com isso. Eu só quero fazer todas as canções e todos os álbuns que tenho dentro de mim.
Pretendes continuar a fazer música o resto da tua vida?
Sim, quer dizer, dependendo do quão longo será o resto da minha vida. [risos] Às vezes eu pergunto-me quanto tempo me resta. Essa é outra das razões pelas quais quero tentar trabalhar o máximo possível, porque nunca se sabe, posso ser atropelado por um autocarro ou algo assim.
Agora que estamos claramente na era do streaming, como é que te sentes relativamente a isso?
Bem, o streaming mudou definitivamente a minha vida. Estava em bandas punk nos meus vintes, desde a era do Napster até chegar aos UMO. Basicamente, eu lançava álbuns e participava na cena punk da Nova Zelândia. Não ganhava dinheiro com os discos. Nós fazíamos muitos, gostávamos de os fazer e as pessoas compravam, mas estava sempre falido. Quando os UMO começaram, estávamos numa editora indie e era bastante humilde. Não esperava mais do que isso porque nunca quis realmente ser uma estrela rock nem nada disso. Sempre quis apenas estar numa banda fixe, sabes? Então, quando o streaming apareceu, foi interessante. O meu manager estava a tentar explicar-mo, a dizer que ia ser o novo paradigma. Não o entendi no início nem acreditei nele, para ser honesto. Mas depois, com o Spotify, a mudança aconteceu muito depressa. Os fãs ouviam a minha música e a minha vida mudou completamente. Estava a fazer dinheiro com o streaming e com as digressões. E era mais dinheiro do que aquele que eu alguma vez imaginaria fazer. Por isso, sinto-me grato. Nunca fui de me queixar do Spotify pela mistura de, de certa forma, ter funcionado bem para mim e de as minhas expectativas serem realistas. Penso que essas duas coisas sempre fizeram com que não me zangasse por isso.
Mas acho que está a mudar agora. Sinto que o plano do mundo tecnológico é realmente destruir as pessoas criativas, para o dizer sem rodeios. [risos] É como se tivessem a ideia de que nunca mais terão de lidar com pessoas criativas como nós porque somos tão difíceis ou aleatórios ou o que seja. Poderão digitar algo como “Parque Jurássico no espaço” e terão tudo o que precisam para fazer um filme inteiro sem ter de lidar com o humor de um realizador ou dos actores. Antes de mais, penso que é uma fantasia. Nunca será aquilo que precisam que seja. Mas penso que, entre agora e a altura em que se aperceberem que não é possível, podem fazer muitos estragos e arruinar o rendimento de muitas pessoas.
Eu estava a fazer música e a tocar em bandas antes do streaming, e imagino que continuarei a fazê-lo depois do streaming. Por isso, tenho guardado algum dinheiro porque acho sempre que o céu cairá eventualmente. Tenho-me preparado para o apocalipse. Acho que ficarei bem [risos], mas é que o mundo tecnológico é um bocado delirante. Por exemplo, a forma como os NFTs foram expostos como uma espécie de patranha… Sinto que agora estamos a assistir à próxima onda, que é a IA — tudo é IA, a IA consegue fazer qualquer coisa. E penso que simplesmente temos de esperar que colapse. Esperar pela próxima coisa à qual teremos de sobreviver, sabes?
E nem tudo é feito para melhorar o nosso dia-a-dia.
Sim. Mas, por sorte, sei que posso fazer um álbum de UMO sem dinheiro. [risos] Bom, não sem dinheiro, preciso de um computador portátil, o que é algo significativo. Mas sinto que conseguiria pôr as minhas mãos num computador. Poderia roubar um! [risos]
Sim, já o fizeste no passado. Quer dizer, não roubar, mas pelo menos fazer um álbum com pouco dinheiro! De certeza que conseguirias fazê-lo de novo.
Mas, honestamente, as coisas estão bem. Não me queixo. Tipo, onde estou é muito além de onde eu achava que chegaria.