‘The Alienist’: um thriller sem suster a respiração
Adaptação televisiva da obra de Caleb Carr, The Alienist, chega até nós como um thriller “à moda antiga”. Não por se desenrolar em finais do século XIX, mas por englobar os ingredientes certos para nos colar a todos em frente à tela. Crimes tenebrosos, cenários sombrios, revelações chocantes e um pouco de romance para contrastar com todas as circunstâncias obscuras. No entanto, não foi o suficiente para a receita sair perfeita.
A trama toma lugar em 1896, na cidade de Nova Iorque, destino de milhares de famílias europeias que aí se estabeleceram na sombra de um sonho de um futuro melhor. A pobreza, degradação e violência que muitos acabaram por encontrar são palco dos assassinatos que despertam no seio das zonas mais pobres e carenciadas da cidade.
A história desenrola-se em torno de um trio improvável de indivíduos, que em comum detêm não só o desejo de desvendar a realidade por detrás dos assassinatos que se vão perpetrando, como também a ânsia de se superarem a si próprios, rompendo com as fracas expectativas que a sociedade neles deposita. Daniel Brühl é Laszlo Kreizler, um ‘’alienista’’, dado dedicar-se ao estudo das perturbações mentais, por se considerar na época que aqueles que sofriam desta enfermidade se encontravam alienados do seu verdadeiro eu. Médico psiquiatra especializado em jovens problemáticos, enfrenta uma luta constante contra o preconceito relativo a este ramo da ciência, que, pouco desenvolvida ainda, é alvo de desconfiança e aversão por parte da sociedade, principalmente da comunidade religiosa. Protagonista central da série e da investigação criminal, carrega o seu papel de forma competente, faltando, no entanto, o fervor e a solidez que a personagem o exigia. Luke Evans interpreta John Moore, um retratista de renome caído em desgraça, que encontra agora a oportunidade de atribuir algum significado à sua existência e contribuir para uma causa maior através do seu ofício. Uma personagem cliché seguida de uma performance medíocre, que protagoniza grande parte de algumas das infantilidades que assombram a série. Por fim, temos Sara Howard, que incorpora a primeira mulher alguma vez a ser contratada pelo departamento policial, cuja forte presença ao longo dos 10 episódios que constituem a série foi levada a cabo na perfeição por Dakota Fanning. Uma daquelas situações refrescantes em que podemos encontrar uma figura feminina que se destaca pelas suas próprias capacidades, assumindo um papel fundamental que em nada se deve ao facto de apoiar um co-protagonista masculino. A personagem de Sara contribui não só quanto ao rumo da investigação como também para o retrato refinado e pouco sensacionalista que a série realiza quanto ao tema da emancipação da mulher.
Cabe acrescentar que diversos outros intervenientes significantes integram a trama, mas que em comum com os protagonistas compreendem o facto de serem completamente engolidos pelos cenários e atmosfera da série, cuja fabulosa atenção ao detalhe sobressai mais que as próprias personagens. A época foi seguramente bem contextualizada e retratada com realismo. Cada espaço (fechado ou ao ar livre) está minuciosamente executado, criando interesse e envolvimento no espectador. Mas simultaneamente comprovando que o enredo e aqueles que o levam a cabo, falharam em criar o fascínio que prometiam.
Algumas das temáticas abordadas paralelamente à acção principal foram tratadas de forma pertinente e intrigante. O nascimento da ciência forense, o olhar precoce à complexidade da mente humana e o papel da mulher como adorno, foram dos conteúdos melhor concebidos durante a temporada. Curiosamente, a linha narrativa central foi perdendo o encanto, tornando-se por vezes confusa e banal. O final, esse, constituiu um autêntico anticlímax, naquele que poderia ser o momento de maior suspense e entusiasmo, tão característicos deste género cinematográfico.
Em 2018 a fasquia está já demasiado elevada no mundo das séries. E após tantos thrillers de época merecedores do sucesso que alcançaram, The Alienist carece de inovação e empenho. O espectador já não se consegue saciar com o razoável, é necessário exceder expectativas ainda antes destas serem criadas.