Museu do Design e da Moda (MUDE) reabre com viagem de 300 anos por edifício que acolhe 17 mil peças
O Museu do Design e da Moda (MUDE) reabre portas na quinta-feira para oferecer aos visitantes um percurso por 300 anos de transformações de um edifício histórico da baixa pombalina que acolhe um acervo de quase 17 mil peças.
A última semana antes da inauguração do museu totalmente remodelado, com novas valências, na antiga sede do Banco Nacional Ultramarino (BNU), será para instalar a nova exposição dedicada ao próprio edifício e às alterações nele feitas, pela perspetiva do design, explicou à agência Lusa a diretora, Bárbara Coutinho.
Apesar de ter mantido a atividade com exposições “fora de portas” ao longo de oito anos de encerramento, será a partir de 25 de julho que o museu “poderá começar a funcionar gradualmente em pleno”, com novas valências, ficando já disponível a biblioteca, onde os especialistas, estudantes e o publico geral interessado em design poderá consultar o arquivo de documentação.
Um auditório, parte da loja e os serviços educativos entram também em funcionamento. “A partir de final de setembro passarão a funcionar a cafetaria, o restaurante, a livraria”, indicou a diretora durante visita guiada à agência Lusa antes da inauguração, sublinhando que, com esta grande remodelação, o MUDE “fica com as potencialidades e os meios disponíveis para desenvolver a sua missão em pleno: debater e aprofundar as suas áreas”.
Bárbara Coutinho quer que o MUDE – cujo primeiro fim de semana de abertura terá entrada gratuita – se torne “um espaço de vida, de criatividade, um local de encontro e de reflexão” em Lisboa, e constitua “um convite à mudança e à transformação, individual e coletiva”.
As obras do edifício ficaram interrompidas, de 2018 a maio de 2021, devido à insolvência da empresa construtora, impondo a revisão de todo o projeto e a abertura de um novo concurso publico internacional, em maio de 2021.
Dedicado a todas as expressões do design, que se espelham no seu acervo, o MUDE possui atualmente quase 17.000 peças, e, destas, 1.362 estão integradas na “Coleção Francisco Capelo”, comprada ao colecionador pelo município de Lisboa em 2002.
“Edifício em Exposição” dá título à mostra de abertura – prevista para as 19:30 de quinta-feira – desenvolvida em quase seis mil metros quadrados, focada no edifício “considerado desde a primeira hora como uma primeira manifestação de uma política museológica, e sempre amadurecido, desde 2009, como parte integrante de um trabalho de reflexão e debate sobre o design na sua história e dimensão critica”, sublinhou.
A proposta expositiva consiste num percurso por 16 instalações em que cada visitante pode ir descobrindo objetos anteriores ao terramoto de 1755, projetos de arquitetos portugueses como Tertualiano Marques (1883-1942) e Luís Cristino da Silva (1896-1976), até ao projeto mais recente, de 2011.
“De uma forma indireta, é parte da história passada e recente de Portugal que se inscreve neste lugar central da Baixa pombalina”, disse a diretora, doutorada em Arquitetura pelo Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, e mestre em História da Arte Contemporânea.
Bárbara Coutinho – que espera ver o MUDE a funcionar em pleno até ao final do ano – deverá inaugurar no final de setembro a nova exposição de longa duração, com base no acervo, “que aumentou muito significativamente e se diversificou”, nestes últimos anos.
Além das peças da “Coleção Francisco Capelo”, os restantes 15.589 itens foram incorporados desde 2009, sendo resultado de doações e depósitos de longa duração, com uma política de incorporações que tem dado “prioridade à evolução do design e da cultura material em Portugal, de modo a poder contribuir para a sua preservação, salvaguarda, apresentação, internacionalização, estudo e análise crítica”.
No total, o acervo conta hoje com 15 coleções, estando mais três coleções em fase de incorporação: “Com estas incorporações que esperamos concluir até ao final deste ano, darão entrada mais cerca de 4.000 peças”, indicou a responsável, dando como exemplo do conteúdo do acervo a “Coleção B2/José Brandão/Salette Brandão”, a “Coleção João Machado” e a “Coleção Carlos Rocha”.
A coleção do antigo Teatro da Cornucópia, que cessou atividade em 2016, é uma das doações que vieram ampliar o acervo do museu durante este período, através dos seus diretores, o cofundador Luis Miguel Cintra e a cenógrafa, figurinista e ‘designer’ Cristina Reis.
“O MUDE é, de facto, cada vez mais, um museu de todas as expressões do design, com núcleos de design de produto, design de moda, design gráfico, design de interiores, design de cena e de joalharia contemporânea”, salientou a curadora e professora.
As maiores diferenças irão sendo visíveis gradualmente, já com acessibilidade para todos os pisos, mais espaços de exposição, um terraço também aberto ao público, reservas visitáveis. Dentro de alguns meses, o acervo também passará a ser mostrado rotativamente na exposição de longa duração e em exposições temporárias.
Na remodelação, o projeto optou por “recuperar, restaurar e reusar a maior parte das estruturas e revestimentos existentes no local para permitir a redução de desperdícios de obra e limitar a produção de novos materiais de construção, tendo uma intencionalidade de sustentabilidade e economia de meios”, sublinhou Bárbara Coutinho.
A programação “MUDE Fora de Portas” – a que a diretora diz pretender dar continuidade – desenvolveu-se a partir de 2016 em diferentes espaços de Lisboa, do país e também do estrangeiro, com um total de 12 temporárias: onze em Portugal e uma no estrangeiro, em três países, de diferentes temáticas, abordagens e dimensões, além da colaboração do museu em alguns eventos internacionais.
Para o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, a reabertura do MUDE representa o esforço de muitos anos: “A dedicação enorme da diretora, Bárbara Coutinho, e de uma equipa extraordinária de 80 trabalhadores de muitas nacionalidades, cujas fotografias vão ficar expostas pelo menos até 30 de outubro”, salientou.
“É um dos maiores museus da Europa, um dos maiores museus do design do mundo, e isso é muito importante no posicionamento de Lisboa como cidade aberta, do futuro, em que a tecnologia e o conhecimento se unem ao passado, porque este edifício representa uma parte da nossa história, e só por si é uma peça de arte e design”, disse à Lusa, durante a visita ao MUDE.
Para o autarca, “o papel do design é a criatividade, e sem criatividade não há inovação, e sem inovação não há criação de emprego”.
Inaugurado em 2009, o MUDE recebeu, até à data de encerramento do edifício-sede, quase dois milhões de visitantes, em quase 60 exposições e cerca de 170 eventos relacionadas com o seu acervo.