Povo indígena Tupinambá prepara cerimónia a manto sagrado devolvido pela Dinamarca ao Brasil
O povo indígena Tupinambá vai celebrar a chegada ao Brasil de um manto considerado sagrado para a sua comunidade, num evento no Museu Nacional no Rio de Janeiro, que acolheu esta relíquia que se encontrava desde 1689 na Dinamarca.
De acordo com o Ministério dos Povos Indígenas, a primeira cerimónia de reza ao manto Tupinambá, que pertence ao povo com o mesmo nome que habita o sul da Bahia, acontecerá no dia 29 de agosto, numa cerimónia fechada destinada apenas às lideranças espirituais Tupinambá e a pajés (curandeiros indígenas), “que terão o dia todo para realizar as atividades de acolhimento, de proteção e de bênçãos ao manto”.
Já no dia 31 de agosto, sábado, o Museu Nacional acolhe a cerimónia oficial, num evento que contará com a presença de representantes do povo Tupinambá, mas também dos Governos brasileiro e dinamarquês. No mesmo dia as portas ao público serão abertas para visualização do manto.
“O Manto, para o nosso povo e para a nação Tupi, representa um ancestral e uma linguagem de comunicação; por meio dele, recebemos prosperidade, paz e uma boa mensagem. Ele vem para dar forças e ressaltar a importância do território para o nosso povo, para manter nossa cultura e nossos rituais vivos”, destacou a líder indígena Glicéria Tupinambá, que participou desde o início do processo de repatriação, em declarações citadas pelo Ministério dos Povos Indígenas.
O manto possui cerca de 1,80 metro de altura, foi confecionado com penas vermelhas de guará sobre uma base de fibra natural e chegou ao Museu Nacional da Dinamarca (Nationalmuseet) em 1689, tendo sido, provavelmente, feito quase um século antes.
“Ao recebermos o Manto de volta, celebramos a relevância das culturas indígenas, inspirando inclusive futuras ações de repatriação, que, ao final, nos devolve a dignidade de sermos e termos essa imensa riqueza, nossa diversidade cultural brasileira”, destacou a secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, Márcia Rollemberg.
Este valioso artefacto, segundo o Museu Nacional, chegou ao Brasil no dia 11 de julho, com críticas deixadas pelo Conselho Indígena Tupinambá de Olivença da Bahia.
Segundo este conselho indígena, o Governo brasileiro tinha acordado que o artefacto ao chegar ao Brasil seria de imediato recebido com uma cerimónia organizada pelo povo Tupinamba, algo que não se veio a verificar.
“Nenhuma decisão sobre este património material e imaterial do povo Tupinambá seria tomada sem nossa consulta”, lê-se no comunicado divulgado nas redes sociais.