Depois de percorrer o mundo, a ‘Tragédie’ de Olivier Dubois estreia em Portugal

por Comunidade Cultura e Arte,    7 Maio, 2018
Depois de percorrer o mundo, a ‘Tragédie’ de Olivier Dubois estreia em Portugal
Fotografia de Francois Stemmer
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“Tragédie”, peça que o consagrado coreógrafo Olivier Dubois já fez circular pelo mundo, chega finalmente a Portugal e o Centro Cultural Vila Flor (CCVF), em Guimarães, acolhe a sua estreia nacional. “Tragédie” é uma libertação explosiva. Um espetáculo vertiginoso e hipnótico com 18 bailarinos nus em palco. Dubois apresenta o homem na sua condição original e despe-o das condicionantes sociais, históricas e psicológicas, para criar um coro que se constrói de corpos reflectindo sobre o poder telúrico que nos liga à terra, a importância da nossa consciência e dos actos voluntários que nos preenchem de humanidade. A peça culmina numa catarse em que os corpos se fundem numa mesma massa, num movimento colectivo hipnótico que deixa a plateia vigilante. O espectáculo apresenta-se a 16 de maio, às 21h30, no palco do Grande Auditório do CCVF.

“Tragédie” é um frenesim de corpos nus em palco para mostrar que o simples facto de sermos humanos não nos dá humanidade. A peça que Olivier Dubois faz circular pelo mundo desde 2012 traz ao CCVF 18 bailarinos, nove homens e nove mulheres, que entram em cena numa marcha de passos assertivos. A crueza dos corpos nus e os seus movimentos abruptos traduzem os impulsos mais arcaicos do homem e mostram que o corpo sem alma não faz de nós humanos.

Fotografia de Francois Stemmer

Inspirado na obra de Nietzsche, “A Origem da Tragédia”, Olivier Dubois criou uma peça que lentamente se vai lançando para o seu clímax. O início do espectáculo, marcado por uma certa lentidão e repetição de movimentos, alimenta no público uma certa tensão para o que está por vir. Primeiro, no escuro, não discernimos bem as silhuetas que se desenham à nossa frente, contudo a luz vai aumentado de intensidade permitindo que a plateia veja na nudez dos corpos dos bailarinos que demoram longamente a tocar-se mas que, ainda assim, emanam uma grande intimidade através de gestos que simulam relações íntimas e do pulsar de uma respiração que se percebe ofegante.

Dubois parece exigir controlo aos seus bailarinos na primeira parte do espectáculo e isso também é sentido por quem está a assistir, pairando no ar uma sensação de restrição. É precisamente essa a intenção do coreógrafo que quer tentar manter todos, dançarinos e público, num mesmo estado, quase uma letargia que nos é imposta e que sabemos que a qualquer momento vai explodir, criando uma tensão na expectativa de testemunhar essa libertação de energia. E, entretanto, ficamos numa espécie de limbo, concentrados naqueles 18 corpos desnudos que nos espantam pelo à vontade e naturalidade com que se encaram uns aos outros. A nudez, como símbolo, é aqui subvertida. Aquilo que muitas vezes é associado à exposição máxima do ser humano, sem nada que o encubra ou proteja, é aqui algo excepcionalmente natural. É essa contradição que nos pede tempo para nos habituarmos a ver aquele conjunto de corpos que se balanceiam sem pudor algum.

Fotografia de Francois Stemmer

Para Olivier Dubois, estes 18 bailarinos que exibem corpos de todas as formas e feitios representam o mais natural que há no ser humano, a sua ancestralidade, despojada de tudo o que a sociedade nos foi impondo ao longo de milhares de anos de evolução. Um certo lado animal marca aqui compasso e remete-nos para a origem, a nossa própria origem. A peça, no entanto, demonstra-nos que não é apenas o corpo e a nossa figura humanoide que faz de nós seres humanos inteiros e completos. Cada um de nós, na plenitude da sua humanidade, tem uma alma, uma consciência, obedece a certos padrões que pensamos ser essenciais à nossa coexistência. “Tragédie” termina em total apoteose, com uma orgia de corpos que não nos permite discernir onde termina um e começa o outro. A desconstrução total da “ordem” para fazer ver a complexidade que nos define enquanto seres humanos.

Os bilhetes para o espectáculo têm o custo de 10,00 euros ou 7,50 euros com desconto, encontrando-se disponíveis nas bilheteiras do Centro Cultural Vila Flor (CCVF), do Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) e da Casa da Memória de Guimarães (CDMG), bem como nas Lojas Fnac e El Corte Inglés, e via online em www.ccvf.pt e oficina.bol.pt.

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