Ciclo de conferências “Mitos e Ícones” abordará grandes temas da literatura e da música clássica, no Centro Cultural de Belém
De 9 de outubro a 15 de janeiro às quartas-feiras, pelas 18h30, na Sala Sophia de Mello Breyner Andresen, exceto as sessões de 9 outubro na Sala Lopes-Graça e de 16 outubro na Sala Fernando Pessoa. O preço por sessão é de 7 euros, pelas 6 sessões o valor é de 33 euros (sabe mais).
O ciclo de conferências “Mitos e Ícones”, proferido por Nuno Vieira de Almeida, abordará grandes temas da literatura e da música clássica. A primeira sessão, a 9 de outubro, discutirá Elektra de Hofmannsthal e Strauss com Helena Vasconcelos. A 16 de outubro, explorará as leituras de Berlioz e Mahler sobre Fausto de Goethe. A 6 de novembro, examinará O Cavaleiro da Rosa de Hofmannsthal e Strauss. A 27 de novembro, com José Pedro Serra, tratará de mitos no Lied alemão. A 12 de dezembro, destacará Dietrich Fischer-Dieskau. Finalmente, a 15 de janeiro de 2025, comparará Amália Rodrigues e Maria Callas com Frederico Santiago.
Programa:
9 out: Elektra – releitura de Sófocles por Hofmannsthal e Strauss – com Helena Vasconcelos
Na peça de teatro que dá origem ao libreto da ópera, Hofmannsthal segue de perto a Elektra de Sófocles, concentrando-se na sua obsessão de vingança pela morte de Agamémnon, seu pai.
Sobre ela Strauss escreve uma das mais violentas obras de todo o repertório com uma linguagem musical simultaneamente modernista e comovente. A brutalidade é de tal ordem que Herbert von Karajan tem um princípio de enfarte ao dirigi-la em Salzburgo e Thomas Beecham, depois de dirigir a estreia inglesa, comenta com humor: «agora vou para casa tocar o acorde de Ré Maior para ter a certeza de que ainda existe.»
16 out: Fausto 1 – a leitura de Berlioz e Mahler dos 2 Faustos de Goethe
Fausto ocupa Goethe durante grande parte da sua vida. A primeira parte é publicada em 1808 e a segunda, já postumamente, em 1832.
Do primeiro Fausto é a leitura musical de Berlioz a que mais me interessa, sem desprimor para todas as outras.
O segundo Fausto foi menos favorecido no número de compositores que o puseram em música; Busoni e Boito visitam-no pontualmente, mas Mahler, em contrapartida, utiliza a comovente cena final na segunda e última parte da sua Oitava Sinfonia. É sobre estas duas obras que nos iremos debruçar.
6 nov: Fausto 2 — «És belo, permanece» – a passagem do tempo no Cavaleiro da Rosa de Hofmannsthal/Strauss
Aproveitamos a bela frase que antecede a morte de Fausto: «És belo, permanece! /O traço dos meus trabalhos na terra, /Nem em eternidades desaparecerá.» – Fausto refere-se aqui a um tempo de trabalho imorredouro, mas é possível olhar para a passagem do tempo como um «comum mortal», desejar que ele permaneça e constatar que as coisas não são bem assim. A esse propósito o texto do Cavaleiro da Rosa que Hofmannsthal escreve para Strauss di-lo com eloquência máxima. E esse será o cerne desta conversa entre Fausto e a Marechala.
27 nov: Prometeu, Ganimede e outros mitos no Lied alemão – com José Pedro Serra
A par com Ganimede, Prometeu, Édipo, Orfeu, a grande tradição alemã do Lied acaba, no aconchego dos seus salões Biedermeier, por transformar em mitos (pelo menos para os músicos) outras e muito mais recentes figuras que, graças a Schubert e Wolf, ganham esse estatuto. O leque é vasto, mas daremos, pelo menos, uma ideia.
12 dez: Dietrich Fischer-Dieskau e a perfeição
Numa época em que os dós de peito e a postura galharda e desenvolta de tenores e sopranos sexy parece ser o grande objetivo de interesse vendável, a figura do barítono Dietrich Fischer-Dieskau aparece, aos olhos de muitos, um pouco deslocada, para não se dizer desconhecida. E, no entanto, Dieskau é, na opinião de Nuno Vieira de Almeida, o príncipe dos cantores. Um legado discográfico incomparável, praticamente todos os Lieder de Schubert, Schumann, Brahms, Wolf, gravações magistrais das grandes óperas do repertório alemão e italiano, um cuidado aprofundado e exemplar na mostra e divulgação de repertório contemporâneo, Henze, Hartmann, Reinman, entre muitos outros, Fischer-Dieskau tem lugar cativo, sem a mínima hesitação, entre os grandes ícones interpretativos do século XX.
15 jan: Amália e Callas – paralelismos de dois ícones – com Frederico Santiago
A ligação não parecerá óbvia para muitos. E, no entanto, ela existe e é fácil de exemplificar. Desde já podemos descansar quem vier ouvir (e ver) que não iremos falar sobre as possibilidades de Callas cantar a Gaivota e Amália a Tosca. Mas vai ser emocionante.