Cinema da Palestina em retrospetiva no Festival Olhares do Mediterrâneo. Vão ser exibidos 11 filmes deste país

por Comunidade Cultura e Arte,    14 Outubro, 2024
Cinema da Palestina em retrospetiva no Festival Olhares do Mediterrâneo. Vão ser exibidos 11 filmes deste país
“3000 Nights”, de Mai Masri

Palestina é o país convidado da 11.ª edição do Olhares do Mediterrâneo – Women’s Film Festival, cuja principal missão é divulgar o cinema feito por mulheres oriundas de países do Mediterrâneo. Este ano, o Festival programa no Cinema São Jorge e na Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema filmes de realizadoras da diáspora palestiniana, numa secção intitulada Olhares da Palestina.

Na cerimónia de abertura do Festival, no Cinema São Jorge, vai ser apresentado “The Teacher”, um filme de Farah Nabulsi, realizadora palestiniana nascida e criada no Reino Unido, vencedora de um Bafta e nomeada para o Óscar de melhor Curta-Metragem com The Present. Em “The Teacher”, a sua primeira longa-metragem, conta a história de um professor na Cisjordânia (Saleh Bakri) que tenta manter um dos seus alunos afastado da violência, enquanto ele próprio está envolvido na Resistência. Este filme estreou no Toronto International Film Festival e, desde então, já foi apresentado em dezenas de festivais um pouco por todo o mundo e foi várias vezes galardoado. Sempre no Cinema São Jorge, são apresentadas as curtas-metragens “Shattered Memory” de Ayan Labban, e “Amplified”, de Dina Naser.

“3000 Nights”, de Mai Masri

Na Cinemateca, que recebe os Olhares da Palestina de 4 a 7 de Novembro, é apresentado “Salt of this Sea”, primeira longa-metragem de ficção realizada por uma mulher palestiniana e que teve estreia no Festival Cannes, em 2007, Annemarie Jacir, nascida em Belém e formada em cinema nos EUA, retrata as aventuras e desventuras  de Soraya, uma jovem palestiniana americana da classe trabalhadora que vai à Palestina na ilusão de recuperar as poupanças do avô, bloqueadas desde 1948.

O drama “3000 Nights”, única longa-metragem de ficção da pioneira do documentário palestiniano Mai Masri, que nasceu na Jordânia, formou-se nos EUA e desenvolveu a sua vida profissional no Líbano, é sobre uma jovem mulher palestiniana encarcerada durante anos com falsas acusações numa prisão israelita, onde dá à luz um bebé e junta-se à Resistência. 

O arquivo e a memória, ou a falta dela, são o tema e o objeto dos documentários desta retrospetiva: em “Kings and Extras”, a realizadora palestiniana jordana Azza El-Hassan vai à procura do arquivo perdido do Departamento de Comunicação da Organização para a Libertação da Palestina; e em “The Silent Protest: 1929 Jerusalem” a realizadora hierosolimita Mahasen Nasser-Eldin relata através de imagens de arquivo a marcha silenciosa de 300 mulheres em 1929 em protesto contra o Alto Comissário britânico.

“Canada Park”, de Razan AlSalah

Entre documentário, animação e filme experimental, “My Love Awaits Me by the Sea”, de Mais Darwazah, nascida na Jordânia, conta a viagem da realizadora à Palestina com um amante imaginário, um poeta, à procura de esperança numa terra esgotada pela guerra. Esperança e imaginação são também o cerne da longa-metragem experimental “Ouroboros”, homenagem a Gaza e à possibilidade da esperança baseada no eterno regresso de Basma Alsharif, que nasceu no Kuwait e cresceu entre Médio Oriente, Europa e América do Norte. Já o vídeo experimental “Canada Park”, da palestiniana canadiana Razan AlSalah, usa imagens de Google Street View e arquivos coloniais para testemunhar o desaparecimento da aldeia de Imwas, traçando um paralelo com a expropriação das terras das First Nations no Canadá.

Finalmente, em “Planet of the Arabs” a palestiniana americana Jacqueline Reem Salloum usa o pastiche para denunciar o racismo ocidental através de uma montagem vertiginosa de excertos de filmes de Hollywood.

Os filmes apresentados nesta retrospectiva são obras inevitavelmente políticas e profundamente humanas: actos de resistência que reconstroem e interrogam a memória de um povo e de uma luta, ajudam a compreender os factos recentes, revelam as feridas íntimas deixadas pela História e renovada pelo presente, interrogam- se sobre o futuro e assombram-nos ao mostrar como os mesmos actos de violência se repetem, ao ponto de História, ficção e crónica acabarem por convergir e confundir-se.

“The Silent Protest: 1929 Jerusalem”, de Mahasen Nasser-Eldin

O Olhares do Mediterrâneo – Women’s Film Festival, apresenta uma vasta programação, composta por 67 filmes de 28 países, a maioria em estreia nacional, e realiza-se no Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa, Casa do Comum e Goethe Institut em Lisboa, sob o tema “Revoluções quotidianas”. O Festival apresenta 51 filmes em competição, organizados em quatro secções: Competição geral longas-metragens, Competição geral curtas-metragens, Secção Especial Travessias, composta por filmes sobre migrações, racismo e colonialismo e a Competição Começar a Olhar, com filmes de escola.

Além de cinema, estão programadas inúmeras atividades paralelas, como debates e workshops. O Festival vai trazer a Lisboa várias convidadas, a anunciar muito brevemente.

Este é o mais antigo festival de cinema no feminino em Portugal, e é o único dedicado à cinematografia da bacia do Mediterrâneo. O Festival é um projeto de Olhares do Mediterrâneo – Associação Cultural e CRIA – Centro em Rede de Investigação em Antropologia.

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