‘Solo: A Star Wars Story’ é um delírio visual mas força um pouco ao pintar tudo com CGI
O festival de Cannes rendeu-se por algumas horas a este evento global que é a estreia mundial de Solo: A Star Wars Story, ou em português Solo: Uma História de Stars Wars, com Ron Howard a assumir o comando daquele que é o segundo spinoff da saga da Lucasfilm, um filme que se vê com algum entusiasmo, embora o realizador não resista a algumas inevitáveis cedências comerciais. Ainda assim, diga-se em seu abono, incute-lhe uma rejuvenescida aproximação ao ambiente western nesta galáxia longe demais.
Aliás, desde o início da maior feira de cinema de todo o mundo que essa presença se fazia sentir, dominando grande parte da fachada do Hotel Carlton, talvez o mais badalado da avenida Croisette, motivando as selfies dos transeuntes. Certo é que esta franchise já avisou que continuará a fazer parte das nossas vidas pelos anos que se seguirão.
Mas talvez o lado mais interessante desta nova incursão nem seja o trabalho bastante conseguido de Howard, mas antes a afirmação categórica de um rapaz [até agora] com um nome impronunciável e difícil de escrever sem gralhas – Alden Ehrenreich. Curiosamente, um rapaz que conhecemos em Cannes, em 2009, quando aqui apresentou o filme Tetro, de Francis Ford Coppola. Agora é ele quem descobre Chewbacca.
É verdade que há muitas histórias em Star Wars. E uma delas é o nascimento desta nova estrela, aqui desenvolvida por Jonathan Kasdan, que já deu uns retoques no genial The Force Awakens, no papel do piloto atrevido, irreverente e fora-da-lei, que se alista no exército local onde lhe atribuem o apelido ‘Solo’, por insistir que o seu nome era apenas Han.
De imediato, brindam-nos com uma endiabrada sequência de perseguição de naves, com todas as situações de perigo iminente, até porque pertence à narrativa do filme essa necessidade de um combustível super-poderoso, o Coaxium, um pouco ao estilo de Mad Max ou até American Graffiti, curiosamente um filme de George Lucas (1973), com Harrison Ford no elenco. Como curiosidade não está mau, nada mau. Tudo isto, ainda antes do primeiro teste ao Millenium Falcon. Dito isto, percebe-se que existe aqui a intenção de gerir o material, de oferecer aos conhecedores suficientes elementos para procurar situar os momentos nesta enorme cronologia galáctica.
A seu lado Solo terá também (e isto não é spoiler nenhum) Lando Calrissian, papel que coube a Billy Dee Williams desde O Império Contra-Ataca e é agora de Donald Glover, para além de Beckett, um trapaceiro bem defendido por Woody Harrelson, Val (Thandie Newton) e ainda o primeiro interesse romântico de Han, a menina Qi’ra, antes ainda de uma tal Leia surgir na sua vida. Será este grupinho a defender e dar corpo a uma nova direção que recupera os primórdios da saga, antes ainda da formação das forças da Rebelião. Paul Bettany dá também uma ‘perninha’ num papel de um vilão também interessado no poder do Coaxium, e mais não devemos revelar.
Já se esperava que Solo fosse um novo delírio visual, algo que se confirma, até com o cuidado de não perder um sentido de época e sobretudo dos filmes que chegaram primeiro. Só que a Disney, uma vez mais em versão Marvel, força um pouco a nota ao pintar tudo com a magia do CGI, o que acaba por nos deixar aquela sensação de que já vimos isto, já estivemos aqui. Algo que não se compreende bem, pois a melhor forma de respeitar os diferentes públicos seria o de não perder de vista uma narrativa que servisse as personagens, as suas motivações, sem submetê-las a um enorme manto de efeitos especiais visuais e sonoros.
Artigo escrito por Paulo Portugal, em parceria com Insider.pt