EUA consideram “infundadas” acusações da ONU de genocídio israelita em Gaza
Os Estados Unidos criticaram hoje as conclusões de uma comissão especial da ONU, segundo as quais os métodos de guerra utilizados por Israel na Faixa de Gaza “correspondem às características de um genocídio”, classificando-as como “infundadas”.
“É algo que desaprovamos inequivocamente”, reagiu o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Vedant Patel. “Pensamos que este tipo de linguagem e este tipo de acusações são certamente infundadas”, acrescentou.
Enquanto principal apoiante militar e político de Israel, os Estados Unidos rejeitaram igualmente as conclusões da organização não-governamental Human Rights Watch (HRW), de que a deslocação forçada de palestinianos em Gaza constitui um “crime contra a humanidade”.
Noutro relatório hoje divulgado, a HRW afirmou que as repetidas ordens de evacuação do Exército israelita na Faixa de Gaza estavam a conduzir a deslocações forçadas da população que constituem “um crime contra a humanidade”.
Em outubro, a ONU estimava que 1,9 milhões dos habitantes de Gaza tinham sido deslocados pela guerra, de uma população total estimada em 2,4 milhões no início do conflito, em outubro de 2023.
A deslocação forçada de civis palestinianos “seria uma linha vermelha” para os Estados Unidos, precisou Vedant Patel.
“É totalmente coerente e aceitável pedir aos civis que abandonem uma determinada área durante certas operações militares e depois permitir que regressem a casa”, sustentou. “Não observámos quaisquer deslocações forçadas específicas”, acrescentou.
Num relatório que abrange o período de 07 de outubro de 2023, data em que começou a guerra desencadeada pelo ataque mortal do movimento islamita palestiniano Hamas a Israel, até julho de 2024, a comissão especial da ONU manifestou-se alarmada com as “mortes civis em massa” e a utilização da “fome como arma de guerra”.
Os métodos de guerra utilizados por Israel “correspondem às características de um genocídio”, segundo esta comissão especial da ONU, criada em 1968 para investigar as práticas israelitas nos Territórios Palestinianos Ocupados, conquistados no ano anterior por Israel (Cisjordânia e Faixa de Gaza).
Israel rejeitou já as acusações constantes do relatório da HRW, sobre a deslocação forçada de civis, classificando-as como “totalmente falsas”, mas não emitiu até agora qualquer comentário sobre as conclusões da comissão da ONU.
A Faixa de Gaza é cenário de conflito desde 07 de outubro de 2023, data em que Israel ali declarou uma guerra para “erradicar” o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis.
Desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) fez também nesse dia 251 reféns, 97 dos quais continuam em cativeiro, 34 deles entretanto declarados mortos pelo Exército israelita.
A guerra, que hoje entrou no 405.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza 43.736 mortos (quase 2% da população), entre os quais mais de 17.000 menores, e 103.370 feridos, além de mais de 10.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
Cerca de 90% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza viram-se obrigados a deslocar-se, muitos deles várias vezes, ao longo de mais de um ano de guerra, encontrando-se em acampamentos apinhados ao longo da costa, praticamente sem acesso a bens de primeira necessidade, como água potável e cuidados de saúde.
O sobrepovoado e pobre enclave palestiniano está mergulhado numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa “situação de fome catastrófica” que está a fazer “o mais elevado número de vítimas alguma vez registado” pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.