Ana Rocha de Sousa fala de empatia e resiliência sobre o seu próximo filme “Asas”
A realizadora portuguesa Ana Rocha de Sousa vai filmar, no início do próximo ano, uma nova longa-metragem de ficção, depois do premiado “Listen”, inspirada na história de uma família ucraniana refugiada de guerra, contou à agência Lusa.
O filme “Asas” é uma produção de Maria & Mayer, em coprodução com a Ucrânia, será rodado nos dois países com elenco português e ucraniano, com atores e não atores, e parte de um contexto real, de conflito, e de história das mulheres de uma família que encontrou refúgio em Portugal.
“É um filme que se enquadra num realismo social, porém defendo que não é de todo um filme político. É um filme humano, sobre pessoas, e é sempre isso que me interessa”, disse Ana Rocha de Sousa à Lusa.
A realizadora sublinha que parte da história de uma família ucraniana que conheceu em Portugal, mas “Asas” é uma ficção que também remete para “uma temática com muita importância” que a tocou.
“Os factos reais em que se baseia são de famílias vítimas de guerra que têm de encontrar outros lugares no mundo para viver com a paz possível. Existe um contexto da história que me liga diretamente e que me provoca imediata empatia e que me faz querer contar e ser parte da voz de pessoas que passam por isto”, afirmou.
Da viagem de pré-produção que já fez à Ucrânia e das histórias que já testemunhou, Ana Rocha de Sousa destacou a resiliência – “uma coisa muito impressionante, porque a vida não parou” –, e saiu reforçada a convicção sobre o seu “posicionamento humano” e sobre o papel do cinema.
“A importância do cinema neste momento é aproximar as pessoas de situações muito específicas, e não deixar mais que [outras] pessoas continuem nessa fuga dessa realidade”, pela banalização das imagens de guerra.
“Asas” será a segunda longa-metragem de ficção de Ana Rocha de Sousa, 46 anos, depois de “Listen”, que recebeu dois importantes prémios no festival de cinema de Veneza, onde foi estreado em 2020.
Também “Listen” se inspira em factos reais. É um drama familiar de uma família portuguesa emigrada no Reino Unido, a quem os serviços sociais lhe retiram os três filhos menores, por suspeita de maus tratos. Numa coprodução lusobritânica, o filme foi rodado nos arredores de Londres com elenco português e inglês, encabeçado por Lúcia Moniz, Ruben Garcia e Sophia Myles.
Em 2023, Ana Rocha de Sousa estreou-se como encenadora, com a peça “O dever de deslumbrar”, a partir de uma biografia de Filipa Martins, que também fez a versão para palco, sobre a escritora Natália Correia.
Ana Rocha de Sousa, 46 anos, estudou Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e fez um mestrado em realização na Escola de Cinema de Londres, no Reino Unido.
Começou por trabalhar em representação, participando sobretudo em séries televisivas, mas também fez direção de arte, cenografia, deu aulas, realizou curtas-metragens, vídeos musicais e publicidade.
“Asas” conta com apoio financeiro do Instituto do Cinema e do Audiovisual.