Grupo LeYa doa quase 4000 livros a São Tomé e Príncipe
À entrada da sede da LeYa está inscrita a célebre frase de Fernando Pessoa: “A minha pátria é a língua portuguesa”, refletindo o espírito da editora em promover a língua portuguesa como um elemento unificador e culturalmente enriquecedor. Este lema serve como pano de fundo para a recente iniciativa do Grupo LeYa, que reafirmou o seu compromisso com a educação e a promoção da literacia ao doar cerca de 4.000 livros ao Banco de Leite e à Santa Casa da Misericórdia de São Tomé e Príncipe. Esta ação, cuidadosamente planeada e executada, tem como objetivo apoiar o desenvolvimento educativo de crianças e jovens no arquipélago, onde o acesso a materiais educativos é muitas vezes limitado.
A ideia para esta doação surgiu de um colaborador da LeYa que conhecia as necessidades da instituição em São Tomé e Príncipe. Após verificar a credibilidade da instituição e a urgência da necessidade, a LeYa mobilizou os seus colaboradores para participarem ativamente, numa iniciativa que procurou, conforme nos disse Ana Rita Bessa, CEO do Grupo LeYa, envolver os seus trabalhadores na seleção dos livros a serem enviados. A ideia “trazida para dentro de portas” por um colaborador fez com que vários funcionários se deslocassem ao centro de distribuição no Montijo, dando à iniciativa uma dimensão mais pessoal e significativa: “Muitos de nós tocámos, literalmente, os livros que chegarão às mãos destas crianças”.
Foi numa simbólica passagem de testemunho dos quase 4.000 livros que Ana Rita Bessa e Frei Fernando Ventura partilharam as suas impressões sobre esta iniciativa e sobre as que hão de vir. Além da promoção da língua portuguesa, a questão urgente da educação é um ponto central para Ana Rita Bessa, que vê na educação uma alavanca para transformar vidas: “O trabalho que fazemos não é apenas cumprir o nosso papel como negócio; é também expandir nossa responsabilidade social nos países de expressão portuguesa”. Para a CEO do Grupo LeYa, iniciativas como esta são fundamentais não só para promover a literacia, mas também para oferecer às crianças ferramentas que podem mudar seu futuro.
Frei Fernando Ventura, presidente do Banco de Leite, há muito que conhece as necessidades urgentes de São Tomé e Príncipe. Quando começou há 15 anos, o leite disponível para o orfanato local escasseava. Suprir carências alimentares foi o ponto de partida para um trabalho multidisciplinar que passa obrigatoriamente pela educação. Para o Frei Ventura, a educação é um elemento transformador essencial na sociedade, especialmente em contextos de vulnerabilidade. O acesso ao livro e à educação é mais do que uma questão de literacia; é uma ferramenta para abrir portas e criar oportunidades onde antes não existiam. “O livro aqui tem uma função mais visível. A maioria das crianças não tem acesso ao computador. O livro é um veículo por excelência para as crianças chegarem e se transportarem para uma realidade”, afirmou.
Não obstante a necessidade de educação em muitos campos onde trabalha, Frei Ventura sublinha que esta não pode ser dissociada das condições de vida básicas. “A necessidade de dar de comer às crianças antes do livro é fundamental”, disse, destacando que o trabalho educativo deve ser multidisciplinar e integrado com outras dimensões da vida comunitária. Neste campo, Frei Ventura destaca a importância de iniciativas que promovam a inclusão e a interação entre gerações. Projetos como a “Casa dos Contos“, na Ilha do Príncipe, têm como filosofia juntar crianças e idosos num espaço onde histórias são contadas, recriadas e reescritas. “Estamos a criar gerações sem memória. A memória dos velhos e a história dos novos não se encontram”, alertou, reforçando que iniciativas culturais são fundamentais para preservar tradições e construir pontes entre diferentes faixas etárias.
Para o Frei Ventura, a educação vai muito além do simples ato de ensinar; é um mecanismo para criar líderes locais, fomentar cidadania e promover inclusão social. Acredita que o impacto da educação é duradouro: “Não podemos mudar o mundo, mas podemos mudar o mundo de alguém.” Essa visão reflete-se no trabalho contínuo que tem vindo a desenvolver em São Tomé e Príncipe, onde procura não apenas distribuir livros ou materiais educativos, mas garantir que esses recursos sejam utilizados para criar mudanças reais e sustentáveis na vida das comunidades.
Esta iniciativa sublinha também a necessidade urgente de olhar para os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) com uma atenção renovada às suas necessidades específicas em termos educativos. Como destacado por Ana Rita Bessa, há um compromisso contínuo em promover não só o acesso ao livro como ferramenta educativa mas também em assegurar que este acesso contribua efetivamente para um futuro melhor nos países lusófonos africanos. A promoção da língua portuguesa nestes contextos é vista como uma missão essencial para garantir que as novas gerações tenham as ferramentas necessárias para prosperar num mundo cada vez mais interligado.