Vitorino canta Florbela Espanca, Lobo Antunes e Miguel Torga em novo disco
O músico Sérgio Costa produziu o álbum e assina os arranjos musicais.
Vitorino canta Florbela Espanca, António Lobo Antunes e Miguel Torga, entre outros, no seu novo disco, intitulado “Não Sei do Que é Que se Trata Mas Não Concordo”, que apresenta ao vivo, em janeiro, em Lisboa e no Porto.
A frase que dá título ao disco foi recuperada de um familiar de Vitorino, do Redondo, Zé Embirra, carpinteiro de profissão, que certa vez participou numa assembleia do clube local e assim que entrou, já atrasado, pediu a palavra e disse: “Não sei do que é que se trata, mas não concordo”, tornando-se um dito popular na vila do distrito de Évora onde Vitorino nasceu há 83 anos.
A frase serviu ainda de inspiração ao tema que abre o álbum, com letra e música de Vitorino.
“Acho-a uma frase notável, tem um sentido universal, é eterna”, acentuou.
No álbum, Vitorino canta quatro temas de sua autoria, e poemas de José Jorge Letria, Florbela Espanca e Miguel Torga, entre outros autores.
Em declarações à agência Lusa, o músico realçou a diferença entre poema e letra. O primeiro “tem uma intenção própria, é um texto autónomo, enquanto a letra tem de ter sílabas abertas para se cantar, pois destina-se a ser cantada, e o poema pode ou não ser cantado”.
Vitorino contou que António Lobo Antunes escreveu a letra de “Não é Meia-Noite Quem Quer”, que faz parte do alinhamento, ao seu lado e que ele a musicou.
O álbum inclui boleros, universo ao qual Vitorino se sente ligado, pois traz-lhe recordações da adolescência, dos bailes em que se dançavam boleros e tangos.
O bolero “Por Ela” (Vitorino) tem duas versões neste álbum: uma “para baile” e outra “para rádio de pilhas”. Com a fadista Cuca Roseta, Vitorino partilha a interpretação do bolero “Para Quando eu te Encontrar” (Sérgio Costa).
Vitorino afirma-se atento ao dia-a-dia e assina a letra e música de “Moda Revolta”, no qual fala das dificuldades de alguns cidadãos e refere realidades como o desemprego, “a sopa dos pobres”, os problemas com a segurança social, a necessidade de “ganhar uns cobres” e a descaracterização de Lisboa, classificando a Europa como “essa figurona”.
José Cid, seu amigo de longa data, com o qual já tinha colaborado, assina a música de “Santo e Senha”, de Miguel Torga.
O Redondo está também presente neste álbum através de Florbela Espanca, “poetisa notável e inovadora” que viveu na vila alto-alentejana, onde ainda hoje existe a casa que habitou “sem qualquer sinalização, algo que a Câmara devia fazer”. Da poetisa alentejana Vitorino musicou “Cravos Vermelhos”.
Questionado sobre a construção do disco, que pensou ia ser o último da sua carreira, Vitorino afirmou que “não se arranja explicação sobre o processo criativo”. “As coisas saem sem explicação, ou então é um demónio, um anjo ou um gnomo que cai sobre as nossas cabeças, não é nada muito programado ou organizado”, afirmou.
Vitorino vai começar a gravar um novo álbum em janeiro, adiantou à Lusa.
Também no próximo ano Vitorino sobe aos palcos da Casa da Música, no Porto, no dia 09 de fevereiro, e do Coliseu dos Recreios, em Lisboa, nos dias 04 e 05 de março, para apresentar “Não Sei do Que é Que se Trata Mas Não Concordo”.