‘Lupo’, de Pedro Lino: passado e (qual) futuro do cinema português
Rino Lupo foi acima de tudo um amante do cinema. Saiu de Itália na busca de condições para fazer cinema. Percorreu a Europa e veio estabelecer-se em Portugal. Ou pelo menos foi o nosso país, o que mais tempo lhe teimou a inquietude. Numa narração em jeito de carta, é a voz de Tiago Alves que reflete como Lupo gostava de inícios. Os inícios são cheios de possibilidades.
O documentário de Pedro Lino apresenta-se em forma de homenagem a uma figura polémica e impulsionadora do cinema português. Iniciou-se como ator. Trabalhou em diversas produtoras e iniciou três em seu nome. Iniciou o ensino do cinema em Portugal, com Manoel de Oliveira entre os seus alunos. Iniciou a nudez em tela e a ficção etnográfica. E iniciou duas famílias, mas o amor pelo cinema falou sempre mais alto.
O trabalho de pesquisa é exímio. O filme é competente. A interpretação da narração, sublinhe-se que bem escrita, acentua-lhe um certo tom jornalístico. A criatividade da edição, no entanto – feita a três mãos, incluindo as de Pedro Lino – empresta ao filme um caracter algo ensaístico que o assegura enquanto obra cinematográfica.
Mais do que o olhar sobre o passado, importa frisar o sentimento de perda que terá impulsionado esta perspetiva romântica sobre o início vibrante do cinema em Portugal. Ao longo do percurso de Rino Lupo, que o documentário nos leva a refazer, somos confrontados com antigas catedrais europeias do cinema, hoje desaparecidas. Em Portugal, vemos edifícios agora abandonados e decrépitos. Visitamos salas históricas de cinema, legendadas pela data da sua última exibição. E entre os vários espaços, todos encerrados nas duas últimas décadas, há aqueles que se tornaram boates e os que hoje são centros comerciais. Na voz de Tiago Alves, o filme questiona o futuro do cinema. E num “português com molho de tomate” – palavras de Beatriz Costa – Rino Lupo responde que a única lei do cinema é o público. É do público que esse futuro depende.
Lupo é a única obra portuguesa em competição pelo Lince de Ouro no FEST – Festival Novos Realizadores | Novo Cinema, cujos vencedores serão conhecidos hoje. À cerimónia de encerramento, no Centro Multimeios de Espinho, segue-se a exibição de Club Europa, de Franziska M. Hoenische.
Artigo escrito por Inês Lebreaud