“The Handmaid’s Tale” inspira protesto pela legalização do aborto na Argentina
Actualmente, o aborto só é permitido na Argentina apenas em casos de estupro, risco de vida da mulher e má-formação do feto. Agora, debate-se a legalização do aborto até à 14.ª semana de gestação. Neste momento, o novo projecto de lei já foi aprovado na Câmara dos Deputados e já começou a ser discutido no Senado. A ideia é de que este seja votado até dia 8 de Agosto.
Em Portugal, o aborto voluntário (ou interrupção voluntária da gravidez) foi legalizado por referendo, em 2007, e é permitido até às 10 semanas da gravidez se assim quiser a mulher independentemente dos motivos.
O presidente argentino Mauricio Macri, que é contra o novo projecto de lei, e que ao longo da sua legislatura tem sido pressionado por vários grupos feministas, afirmou, no entanto, que não vetará o novo projecto de lei se este for aprovado.
Em “The Handmaid´s Tale” há um grupo fanático que transforma os Estados Unidos na república de Gilead e onde é instalado um regime totalitário baseado em leis do antigo testamento que retiram os direitos às minorias e às mulheres.
A escritora canadiana Margaret Atwood, autora da obra literária “The Handmaid´s Tale”, um romance escrito nos anos 80, e que é reconhecidamente uma feminista, também se juntou a esta luta na Argentina e por um motivo muito especial. No fim do ano passado, Atwood esteve na capital argentina, Buenos Aires, e conversou, na Biblioteca Nacional, com o escritor Alberto Manguel (que também é o director da Biblioteca) e revelou que uma das suas inspirações para criar a história base de “The Handmaid’s Tale”, o pesadelo que é a República de Gilead, foi o que aconteceu na Argentina nos anos 70: durante a ditadura militar da argentina, que durou 7 anos, de 1976 a 1983, centenas de mulheres grávidas, que estavam na resistência ao regime, foram presas e os seus companheiros foram mortos. Já as futuras mães foram mantidas vivas até darem à luz. Depois, os recém-nascidos eram, então, entregues a famílias de militares que tinham dificuldades em terem filhos, enquanto isso as mães eram executadas nos centros clandestinos onde estavam presas.
Sendo assim, e desde a sua estreia, “The Handmaid’s Tale” tornou-se num símbolo para diversas acções políticas um pouco por todo o mundo. O exemplo mais recente aconteceu na própria Argentina, na passada quarta-feira, 25 de Julho, onde várias mulheres usaram o famoso figurino vermelho e branco típico das aias, na adaptação do livro de Margaret Atwood, durante um protesto a favor da legalização do aborto no país.
O protesto acabou por se concentrar junto ao edifício do Congresso nacional, debaixo de chuva, e foi lida uma carta de apoio da própria Margaret Atwood: “Ninguém gosta do aborto, mesmo seguro e legal. Nenhuma mulher escolheria isso para passar tempos agradáveis num Sábado à noite. Mas ninguém gosta de mulheres a sangrar até à morte, no chão da casa de banho, por abortos ilegais. O que fazer?”
No início do ano, a autora comentou o assunto, através da sua conta de Twitter, após a vice-presidente da Argentina Gabriela Michetti dizer que era contra a proposta: “As mulheres podem dar os filhos para adopção, ou verem o que acontece durante a gravidez, trabalharem com um psicólogo, não sei. Há pessoas que vivem coisas muito mais dramáticas e não podem soluciona-las e mesmo assim têm de viver com isso”. E foi ainda mais longe, dizendo: ”os pobres têm muitos filhos, sete, oito, e isso não me parece ser um problema.”, disse Gabriela Michetti. Já Atwood opôs-se e disse: “Não ignore os milhares de mulheres que morrem por ano por causa de abortos ilegais”, “dê às mulheres argentinas o direito de decidirem, as argentinas estão a lutar pelos seus direitos e pelas suas vidas.”, acrescentou num tweet.
Por fim, a terceira temporada de “The Handmaid’s Tale já está confirmada para 2019, embora não se saiba a data em concreto. Mas antes disso acontecer, e a 17 de Setembro, acontecem os Emmy 2018 e a série da Hulu está nomeada em 20 categorias.
https://www.youtube.com/watch?time_continue=80&v=PJTonrzXTJs