A arte do “não sei”
Vivemos num mundo afogado de opiniões. Temos sérias dificuldades em valorizar o nosso maior impulsionar de conhecimento, a nossa Ignorância. E não percebemos que esta ilusão de conhecimento é até um fio condutor de tristeza e infelicidade. E claro que o fenómeno das redes sociais veio catapultar este fenómeno porque sentimos que a nossa opinião seja ela qual for, e mais ainda se for errada, polémica, provocadora e desconcertante pode chegar a milhares ou milhões de pessoas. A sensatez tem má imprensa.
Ter uma opinião é extremamente importante, mas muito mais importante na maioria das temáticas e circunstâncias é não ter opinião, e dominar a arte de dizer “não sei”. Não ter opinião, não nos fragiliza. Antes pelo contrário, dá-nos sinceridade, credibilidade, genuinidade, humildade e paz de espírito, e daí felicidade. E mais ainda, mostra-nos o caminho do querer saber.
Mas vivemos cada vez mais num mundo em que se disparam opiniões sem o mínimo conhecimento de causa, em que se parte para uma conversa como se fosse um ringue onde só interessa ganhar, e onde se pensa que dois monólogos fazem um diálogo, mas não fazem. Fazem conflitos, violência verbal e criam clivagens entre as pessoas tão fundas quanto a sua vontade de provar um ponto, ainda que seja a anos-luz do nosso core de conhecimentos e reflexões maturadas.
Na órbita de opiniões de casos fugazes e compreensões não aprofundadas, o mundo dos twitts e bitaites ganha terreno à construção de conhecimento e que é do bem comum. Tudo vai mal quando não sabemos dizer “não sei”, “não tenho opinião”, “vou ler mais sobre isso”… e confundimos argumentos com soundbites, acreditamos que saber muito é dizer muita coisa, e esquecemo-nos que na presunção do que achamos que sabemos, deixamos de aprender.
Não escrevo com a presunção moral de estar a dar ensinamentos, escrevo para que não me esqueça, cultive e alimente a arte de dizer “não sei”. E o caminho tem de ser sempre de melhoria.