A diversidade cultural na indústria cinematográfica
O Cinema é uma forma poderosa de expressão artística, uma janela para o mundo e uma reflexão sobre o mesmo. Através dele, podemos conhecer culturas, valores e realidades diferentes das nossas, e até mesmo, refletir sobre nós mesmos e sobre a nossa sociedade. Contudo, muitas vezes, a indústria cinematográfica não reflete a diversidade cultural do mundo real, e isso pode tornar-se um problema.
Nos últimos anos, tem-se falado cada vez mais sobre a representatividade na indústria cinematográfica: como raça, género, orientação sexual, habilidades diferentes e outras características que compõem a diversidade humana. Quando se trata da multiplicidade cultural, o cenário é ainda mais alarmante. Ou seja, muitas vezes, a cultura de um país é retratada de forma estereotipada e simplista, e a sua riqueza e complexidade são ignoradas. O que pode levar a sérios impactos sociais e culturais, perpetuando, por exemplo, a desigualdade e o preconceito, e limitando a compreensão mútua entre diferentes grupos culturais.
Temos o exemplo do filme “The Lone Ranger” (2013), dirigido por Gore Verbinski. Adaptado da famosa série de televisão dos anos 50, foi amplamente criticado pela sua representação insensível dos povos indígenas americanos e a sua culpa histórica. O filme perpetua estereótipos negativos e ofensivos, e a sua narrativa é desequilibrada, colocando os personagens brancos como os protagonistas e os personagens nativos como secundários.
Para mudar esse cenário, é importante que a indústria cinematográfica se esforce para refletir sobre a variedade cultural do mundo real. Isso inclui dar voz e espaço para realizadores e argumentistas de diferentes culturas, e abordar histórias e temas que reflitam a riqueza e a complexidade dessas vivências. É preciso, também, que sejam criados mecanismos para garantir que a representatividade cultural seja uma prioridade na produção de filmes, e que sejam feitas mudanças no mercado para garantir que esses filmes sejam exibidos e valorizados.
Um exemplo recente de representatividade cultural bem-sucedida no Cinema é o filme “Parasitas”, de Bong Joon-ho. Este filme sul-coreano, que venceu o Óscar de Melhor Filme em 2020 (entre outros Óscares), retrata a complexa sociedade sul-coreana com uma mistura de drama e comédia, e aborda questões sociais como desigualdade económica e de classe. Este exemplo mostra que a representatividade cultural pode ser bem-sucedida, e que filmes que reflitam diferentes culturas e histórias podem ser aclamados pela crítica e pelo público. Consequentemente, também acaba por mostrar que a indústria cinematográfica pode ser uma plataforma para aumentar a compreensão e a apreciação de diferentes culturas.
Julgo que é hora de darmos voz e espaço para diferentes culturas e histórias, e de fazer com que o cinema reflita a riqueza e a complexidade do mundo real. A indústria cinematográfica tem o poder de unir pessoas de diferentes pontos do mundo e de promover a compreensão mútua, e podemos usar essa arma para fazer a diferença.
Esta crónica foi originalmente publicada no Jornal de Leiria, tendo sido aqui publicada com a devida autorização.