A escola do futuro não se constrói sem o passado
Com alguma tristeza, mas sem grande surpresa que li recentemente que face à flexibilidade curricular aprovada pelo Governo, que concede a todas as escolas autonomia para gerir até 25% do horário, muitas instituições têm diminuído os tempos de horário letivo de disciplinas como história e geografia, situações que têm acontecido principalmente no segundo e terceiro ciclo, mas que também ocorrem no ensino secundário.
Sempre que me recordo do meu percurso escolar, não consigo deixar de parte as memórias que os professores de história criaram em mim. Isto tudo por uma simples razão, história era aquela disciplina que despertava em mim uma curiosidade enorme, não só para perceber e entender os acontecimentos do passado, mas muito para perceber para onde estávamos a ir. A disciplina de história sempre foi isto para mim, a curiosidade de uma narrativa perdida no tempo e o estímulo de identificar um possível erro no percurso que estamos a escolher enquanto sociedade, com o objetivo de fazer mais e melhor. Falar de história é recordar os belos momentos com um Senhor Professor que tive o prazer de encontrar, o Professor Antão, que sempre com a sua personalidade forte e frontal fez-nos perceber a importância de interpretar o passado, ler o presente e construir o futuro. Foi o professor Antão que me ensinou o significado de ser pontual, a importância do rigor e a recompensa da dedicação, sem pronto com o seu famoso STOPPP!
Contudo, este desinteresse por determinadas disciplinas dos sucessivos governos não incide apenas na história, mas também em disciplinas como geografia, psicologia e sociologia. E que erro meus senhores! Lembro-me perfeitamente nas aulas das professoras Anas quando podíamos debater e partilhar uma opinião (único espaço na parte letiva para este momento) e sentíamos todos que por momentos o nosso sentido crítico estava a ser estimulado. Disciplinas como filosofia que criam no aluno a arte de pensar, da procura da verdade, do fundamento, nunca foram consideras pelas políticas portuguesas de educação. É notório o papel secundário que é atribuído às disciplinas que criam em cada um de nós um entendimento de quem fomos, do que somos e daquilo que ousamos ser.
Hoje o ensino cria e estimula médias altas para entrada na universidade, em cursos de medicina, direito, engenharias, mas em poucos momentos a escola questiona o aluno sobre o rumo que pretende dar à sua vida, qual a sua aptidão e o seu objetivo de futuro. Enquanto vivermos da ilusão que o destino é dos alunos que debitam matéria, que o seu processo de ensino passa pelo estudar e responder aquilo que decoraram, sem a necessária reflexão e aprendizagem, continuaremos a construir excelentes quadros, mas péssimos cidadãos.
É necessário repensar o ensino e criar formas de educação não formal, projetos e formas de comunicar diferentes com os alunos, a sala de aula já não é frequentada pelos Oliveiras do séc. passado. A construção da nova escola depende de novas formas de interação, mas o excluir de matérias tão importantes implica aquilo que ainda não temos verdadeiramente enquanto sociedade, o entendimento que cada um de nós pode defender uma ideia, desde que fundamentada e com respeito pela ideia de quem está ao nosso lado no café. Resumidamente, somos uma sociedade que carece de espírito crítico e com estas decisões estão a criar-se alunos que não pensam, apenas debitam.
A escola do futuro não se constrói sem o passado!
Crónica de Diogo Farinha