“A Estação do Diabo”, de Lav Diaz: o lamento musical da opressão filipina
A Estação do Diabo é o lamento musical com que o cineasta filipino Lav Diaz pinta a interminável luta do seu povo contra os líderes opressores. O que era para ser um film noir, como ele revela na nossa entrevista, concedida há pouco mais de um ano no festival de Berlim, onde o filme esteve a concurso, acabou por se transformar num musical de quatro horas a preto e branco.
Como sempre, Lav Diaz assina o guião, faz a montagem, assegura a fotografia, bem como a produção e, claro, a realização. Quanto à duração e à duração nem há novidade, há que é assim que Lav concebe o seu cinema. Surpreenderá mais o lado musical. Já lhe chamaram “ópera rock” para ilustrar este novo episódio da história filipina, neste caso, durante a “lei marcial dos anos 70. Naturalmente, concebido com longos planos fixos e de acordo com um design espartano, o filme é suportado por cânticos a capella que vão evocando todo o processo de opressão da ditadura militar.
Por detrás desta atitude estética está a história verídica de uma médica que ousou opor-se ao poder local acabando detida, motivando embora a luta do seu companheiro, um poeta e ativista. Ainda assim, o filme vale sobretudo por essa viagem à essência do sofrimento deste povo. Uma experiência que exige o empenho do espetador, embora com a recompensa – a que tantos escapam por abandonar a sessão – de conhecer a obra.Crítica de Paulo Portugal, em parceria com Insider.pt.