A importância do património para o povo de Timor-Leste

por Lucas Brandão,    20 Maio, 2022
A importância do património para o povo de Timor-Leste
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Este é um excerto da tese de mestrado realizada no âmbito do Mestrado de História e Património, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. A sua transcrição e respetiva publicação prendem-se com a celebração dos vinte anos da independência de Timor-Leste.

O património cultural tornou-se numa prioridade na agenda dos mais diversos países, não só no sentido da salvaguarda da sua identidade nacional, mas também no reconhecimento das tradições e dos costumes locais e regionais. Nesse sentido, o percurso da patrimonialização, isto é, o percurso que leva um bem (material e/ou imaterial) ao seu reconhecimento, à sua divulgação, sem descurar a sua conservação e a preservação, é imperativo para a sua valorização. Como se escreveu atrás, no caso de Timor-Leste, o seu território atual é herdeiro de influências e de perturbações, de diversas tutelas e, por isso, vê o seu património fragmentado e disperso por várias entidades públicas e privadas, sendo a maior parte destas estrangeiras. A responsabilidade de mobilizar este património para as comunidades timorenses pertence a todos aqueles que tutelam esses bens, devendo atuar em prol da sua aproximação em relação àqueles a quem os bens significam algo.

A importância de inventariar o que existe em Portugal permite que aqueles bens sejam entendidos e cruzados através de outras ferramentas, nomeadamente as informáticas, que tutelem outros tantos conjuntos de bens relativos a temáticas similares às de outras coleções e que permitem a interpretação e conhecimento do que, por várias razões, se encontra disperso. Esta é a forma de recuperar informação e conhecimento. A organização dos bens existentes e dos seus registos pode e deve ser efetuada tendo em conta outras abordagens, facilitando a interoperabilidade de estruturas de recenseamento, inventariação e catalogação (conforme o nível de descrição dos elementos em estudo) 33 de modo a proceder a uma boa preservação e gestão das coleções existentes.

No caso da coleção de imagens em estudo (que como veremos é a junção de várias coleções), a sua temática subordina-se, essencialmente (mas não só), ao estudo antropológico das comunidades de Timor, abrangendo a fisionomia dos indígenas, mas também o modo de vida, e o território, nas suas paisagens e recursos, assim como os elementos arquitetónicos. Estes exemplares chegam à atualidade por intermédio dos esforços de várias áreas de estudo, que vêm os seus percursos ser preservados por instituições que sucederam às que patrocinaram as missões de investigação, das quais resultaram as coleções, entre as quais as fotográficas (Roque & Ferrão, 2011, 122).

A informação que chega sobre os elementos captados e relacionados, no caso das fotografias, é especialmente pertinente perante a omissão de vários deles na atualidade, sendo dos poucos objetos que fazem subsistir a sua memória. São memórias que fazem parte de um legado da história de uma nação, como a de Timor-Leste, que inclui o contexto colonial e as relações com Portugal metrópole. As imagens, entre as quais as fotografias, adquirem uma dimensão patrimonial, sustentada nas interpretações e nos significados subjacentes (Roque & Ferrão, 2011, 128). Por transmitirem aspetos quotidianos, como as atividades laborais, as tradições de vestuário, as suas paisagens e demais aspetos antropológicos e etnográficos, descortina-se a importância deste património na construção da história de Timor-Leste, das diversas comunidades locais e regionais do seu território. Veremos como.

Todo o espólio produzido e recolhido nos percursos realizados pelas missões científicas no território timorense faz parte, assim, da construção histórica daquele país. Não só o material fotográfico, arqueológico, artístico e demais científico que existe é relevante, porque é o olhar de alteridade, de uma perspetiva que o outro (neste caso Portugal metrópole) exerce sobre a comunidade em estudo, que faz parte dos olhares a partir dos quais, neste caso, Timor era visto e estudado. Como também é a marca de um percurso histórico que informa sobre o passado de um país colonial. Por isso, o património que é recolhido vale pela sua realidade material e tangível, mas também pelas interpretações a si associadas, as narrativas que as ligam a momentos da sua história e aos significados inerentes a cada objeto.

As referências bibliográficas constam no corpo desta tese de mestrado, que pode ser consultada aqui.

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