A minha geração
Tenho 23 anos e estou quase a terminar o mestrado. Sinto que estou numa fase interessante da minha vida, porque este é o momento em que tenho todas as portas em aberto: fico a trabalhar na minha cidade? Mudo-me para outro país? Faço um gap year, termo tão “na moda”, e vou viajar pelo mundo? Ao fim de vários anos a seguir o percurso académico que a sociedade espera de nós, ter finalmente a liberdade para decidir o que fazer daqui para a frente, sem orientações de ninguém, pode ser assustador. Afinal, o que é que eu quero mesmo fazer da vida?
Apesar de sermos a geração mais educada e informada de sempre, sentimo-nos perdidos e ansiosos em relação ao futuro. Incertezas são transversais a todas as gerações, mas no passado as pessoas tinham ideias mais fixas e não temiam tanto a estabilidade ou o compromisso. Eram tempos melhores ou piores? Não sei — acredito que todas as gerações têm as suas virtudes e defeitos.
“Millennials” ou “Geração Z” à parte, esta é a geração Erasmus/Airbnb/Instagram. Muitos de nós tivemos a oportunidade de estudar fora, viajamos mais graças às low cost e somos sensíveis a problemáticas como a crise dos refugiados ou a sustentabilidade ambiental. Somos cidadãos globais, com uma mentalidade mais aberta e adeptos da economia da partilha: Couchsurfing, Uber, BlaBlaCar. Não somos revolucionários, mas temos a capacidade de começar movimentos a partir de um simples hashtag. E gostamos de provocar — mesmo que isso signifique pôr like na fotografia de um ovo para quebrar recordes.
Somos constantemente bombardeados com informação. Nascemos de mãos dadas com a Internet, crescemos com as redes sociais e aprendemos sozinhos através dos tutoriais do Youtube. Temos acesso a todo o conhecimento através de uma simples pesquisa no Google, no entanto, somos incapazes de ler mais do que um parágrafo de um artigo e aborrecemo-nos facilmente se um vídeo ultrapassar os 15 segundos. Queremos tudo já e agora: saltamos as introduções na Netflix e não aguentamos a publicidade no Spotify. Procuramos autenticidade, mas escondemo-nos atrás de filtros. Usufruímos de muitas vantagens graças à Internet, mas temos o fardo de sermos os primeiros a crescer na era digital: quais serão os efeitos a longo prazo de estarmos constantemente “on”? Que consequências terá no nosso desenvolvimento enquanto indivíduos? Ainda ninguém sabe, e para o bem ou para mal, seremos nós a descobrir. Talvez seja por isso que sentimos cada vez mais a necessidade de falar abertamente sobre problemas mentais, ou desligarmo-nos das redes sociais – ainda que só por uns dias!
Tudo isto acaba por ter impacto na nossa vida profissional. A maioria já não tem como objetivo estabelecer uma carreira duradoura na mesma empresa até chegar ao cargo de topo. Isso não significa que não queiramos trabalhar: pelo contrário, procuramos projetos com impacto e não temos medo de mudar radicalmente de percurso se estivermos insatisfeitos. Criticam-nos por sermos “sonhadores” em busca permanente por uma utopia. Mas como podemos parar quando o mundo à nossa volta evolui e se transforma a cada segundo?
Esta é a geração que está a entrar agora no mercado de trabalho e vai ser interessante ver como as empresas se adaptam (ou não) aos interesses e ambições dos futuros profissionais. Flexibilidade, responsabilidade social, reconhecimento pessoal e colaboração são para nós mais importantes do que salários ou títulos. Mas acima de tudo, num mundo em que tudo é cada vez mais efémero, nunca foi tão grande o desejo de fazer a diferença.
Crónica de Maria Penha
A Maria é estudante, tem 23 anos, e é natural do Porto. Só está bem aonde não está e só quer ir onde não vai. Pelo meio, gosta de refletir sobre a vida e suas peculiaridades.