A vergonha tem de mudar de lado

por Cláudia Lucas Chéu,    17 Junho, 2025
A vergonha tem de mudar de lado
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“A vergonha tem de mudar de lado” trata-se de uma troca de correspondência pública entre as escritoras Cláudia Lucas Chéu e Patrícia Portela. Cartas que pretendem colocar questões sobre a actualidade e reflectir em conjunto com os leitores. Sempre às terças na Comunidade Cultura e Arte. 

Peço a quem nos ler que escreva aqui sobre as mulheres anónimas que gostaria de lembrar. Acrescentarei as vossas palavras ao texto.

Lembremos as mulheres que moram nas periferias e acordam às quatro da manhã para limparem os escritórios antes dos trabalhadores chegarem.

Lembremos as mulheres que lavam as casas de banho públicas por tuta-e-meia e são obrigadas a lidar diariamente com a imundície e a falta de civismo.

Lembremos as mulheres que cuidam de idosos em lares, que fazem deslocações aos domicílios, que têm o pai ou mãe acamados em casa.

Lembremos as mulheres que têm quatro ou mais filhos e têm de trabalhar, ir ao supermercado, cozinhar, lavar a roupa, cuidar da casa, dos miúdos e sobreviver no meio de tantas exigências.

Lembremos as mulheres que apanharam e apanham pancada dos maridos e que ganham coragem para denunciar e lembremos as que morreram às mãos de cônjuges assassinos.

Lembremos a mulheres violadas, molestadas, abusadas física e emocionalmente por parentes ou desconhecidos.

As mulheres que enfrentaram a família e a sociedade por amor a outra mulher. E as que defenderam os filhos ou as filhas homossexuais da violência familiar e social.

Lembremos as mulheres que roubam para pôr comida na boca da família e as que vão presas por terem tentado escapar da miséria por meios ilícito.  

As mulheres que tentam proteger os filhos durante uma guerra ou que os vêem morrer nos seus braços. Mulheres que durante uma guerra são médicas, enfermeiras, cuidadoras e combatentes. Lembremos mulheres que desempenharam papéis essenciais em movimentos de resistência contra regimes opressivos, nas redes de apoio, fornecendo informações ou nas forças armadas.

É mais do que necessário o reconhecimento das mulheres anónimas para valorizarmos a sua importância na sociedade. Lembremos então todas as mulheres sem reconhecimento público.

Torno a pedir a quem nos ler que escreva também sobre as mulheres anónimas que gostaria de louvar. Acrescentarei a este texto as vossas palavras.

A estas mulheres e homens que nos leem, obrigada.

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