A vingança
A vingança é ou não um nobre sentimento? Verdadeiro? Humano? Ora, o filme Oldboy, do realizador Sul-Coreano Park Chan-wook serve, mesmo, para nos fazer refletir sobre isso. E, hoje, quse 20 anos volvidos desde o seu lançamento, é sobre ele que quero falar.
Oldboy venceu o Grand Prix na edição de 2004 do Festival de Cannes, e foi muito elogiado pelo presidente do júri naquele ano, o realizador americano Quentin Tarantino. Também recebeu elogios da crítica especializada nos Estados Unidos, conquistando uma qualificação de 81% “Certified Fresh” no site agregador de críticas Rotten Tomatoes. O crítico Roger Ebert afirmou que Oldboy é um «filme poderoso, não devido ao que retrata, mas devido às profundezas do coração humano que ele desnuda.» De facto, Oldboy parece ser unânime quando se fala do melhor do novo cinema sul-coreano. Talvez, porque, na verdade, é um filme que incomoda. Esta segunda parte da trilogia de vingança do realizador Park Chan-wook nasce da adaptação de uma Mangá japonesa de Nobuaki Minegishi e Garon Tsuchiya.
«Num dia em 1988, Dae-soo, um homem casado e com uma filha, é raptado e aprisionado num quarto de hotel sem qualquer explicação. Quinze anos depois é libertado, é-lhe dado dinheiro, um telemóvel e um fato novo. Desorientado, ele luta para descobrir porque foi preso. Mas o seu raptor ainda tem planos para ele e envia-lhe mensagens que o incitam à vingança.»
Repleto de violência em demasia, esta é uma história muito sangrenta, mas jamais, gráfica ou feita para chocar o espectador. O que choca é a situação, e não a violência em si. No fundo, o grande apelo do filme são as reflexões levantadas. Temas polémicos como: liberdade; vingança; incesto; e consequências dos seus atos, são utilizados de uma forma muito bem comprometida, criando uma história convincente cujo desfecho impressiona o espectador (ou o possível desfecho, já que nada é muito claro ou direto no filme, de forma propositada).
Como seres humanos, somos propensos a uma infinidade de emoções ao longo das nossas vidas. É uma das nossas melhores forças e maiores fraquezas. Pois, enquanto que, emoções desenfreadas nos podem levar a fazer coisas das quais nos podemos arrepender mais tarde, sem elas, acabamos por perder uma grande parte do que nos torna humanos.
Assim, podemos concluir que o filme não fornece, necessariamente, uma mensagem direta (exceto talvez para se ser cauteloso sobre como a vingança pode arruinar completamente a vida de outra pessoa, assim como a nossa). Talvez seja uma tentativa de nos fazer mostrar mais empatia com aqueles que nos rodeiam, e não ser tão imprudente a ponto de agir sobre as emoções que exigiriam nossa vingança. Afinal, nenhum dos personagens que se tentam vingar no filme tem um bom final.
O ponto principal da vingança é que ela deve trazer um nível de satisfação para aqueles que a alcançam, no entanto, Oldboy deixa claro que a satisfação trazida da vingança não é um sentimento que valha a pena perseguir.
Esta crónica foi originalmente publicada no Jornal de Leiria, tendo sido aqui publicada com a devida autorização.