Academia Portuguesa de Cinema apela à proteção do Cinema Império em Lisboa
A Academia Portuguesa de Cinema (APC) instou hoje o Governo e a Câmara de Lisboa a protegerem a memória do Cinema Império e a manter o edifício como um espaço cultural da cidade.
O apelo surge na sequência de uma proposta aprovada na quarta-feira em reunião de Câmara de Lisboa para “alterar o uso de equipamento cultural para equipamento religioso, com outras valências complementares”, nomeadamente “serviços de administração, de apoio com salas de atividades para crianças e jovens, de formação e reunião”.
Segundo a proposta, a que a agência Lusa teve hoje acesso, pretende-se ainda ampliar o edifício “com aumento de área de construção e volumetria, alterações exteriores, de fachada, ao nível dos últimos pisos, incluindo alterações na cobertura, e ainda outras alterações e legalizações no interior do imóvel, para o adaptar ao uso proposto”.
“As notícias que nos chegam da sua desclassificação de equipamento cultural para uso religioso e o início de obras que ignoram o seu valor cultural deixam antever mais uma perda irreparável para a cidade. O desaparecimento do Cinema Império é uma ameaça real e alarmante, à semelhança do que já aconteceu com salas icónicas como o Monumental, Condes, Éden, Odeon, Olympia, Europa, Paris, Londres Mundial e Quarteto, apenas para mencionar algumas”, é referido na nota divulgada pela Academia Portuguesa de Cinema.
Antevendo essa situação, a APC considera que “é urgente que as entidades responsáveis, desde o Governo à Câmara Municipal de Lisboa, intervenham no sentido de preservar este espaço”.
“É tempo de exigir a salvaguarda do Cinema Império e de reconhecer o seu papel insubstituível na identidade cultural de Lisboa e do país. Não se trata apenas de salvar um edifício, mas de proteger a memória, a história e o futuro cultural da cidade”, sublinha ainda a APC.
Também hoje, a associação Fórum Cidadania LX enviou um pedido de esclarecimento à Câmara Municipal de Lisboa (CML) e à ministra da Cultura sobre a legalidade e as consequências da aprovação da proposta.
“Não podemos deixar de manifestar a nossa tristeza pela indiferença continuada dos poderes públicos, desde logo pelo Governo e a CML, para com as grandes salas de cinema de Lisboa, que outras cidades e outras sociedades civis desde logo na Europa, procuram resgatar o máximo possível, mais a mais quando estamos perante uma ‘obra total’ como o Cinema Império, que constituiu na altura, inclusivamente, um desafio arrojado em termos arquitetónicos pela configuração do lote onde foi construído”, refere a associação.
A Lusa contactou a Câmara de Lisboa, para obter um esclarecimento e um comentário a esta situação, mas ainda não teve resposta.
O Cinema Império, localizado na freguesia de Arroios, foi inaugurado como sala de cinema em maio de 1952, tendo encerrado portas em 1983.
Atualmente é um lugar de culto da Igreja Universal do Reino de Deus.