Activismo pela Humanidade
A estranheza reside no facto de ainda ser necessário. O activismo consiste na defesa de uma causa, dum ideal, é uma luta que se entende precisar de ser feita. É uma voz, é um grito, um acordar, uma chamada para acção, com o objectivo de mudar mentalidades e em última análise penetrar nos processos de decisão política. O problema reside no facto de, a política ser fechada no essencial, a interesses puramente nacionais. E logo temos um histórico, um presente e um convite para um futuro em que a nossa empatia para com outros seres humanos, esbarra nas fronteiras do nosso país.
Vejamos a nossa análise às consequências da pandemia: se em Portugal os números estiverem a descer e em Espanha a aumentar para nós é uma vitória, como se esta linha que nos divide, dividisse também as vidas que importam, e as que importam menos. E obviamente que nós sentimos empatia pelos Espanhóis, pois cruzam-nos com frequência, compreendemos o que dizem, partilhamos a religião maioritária e culturalmente temos muito em comum. Sofremos quase como se fosse na nossa pele os ataques na estação de comboio de Atocha em Madrid em 2004. Mas se formos um pouco mais longe o nosso coração deixa de bater. Quando as nossas atenções entram em mundos onde a cor de pele é substancialmente diferente, quando rezam a um deus estranho para nós ou falam uma língua muito “esquisita”, nós deixamos de sentir. Deixamos de ver a humanidade que nos une. Desvanece o nosso sentido de humanidade comum.
O Iémen é a maior crise humanitária dos últimos 100 anos, cerca de 100.000 crianças já morreram à fome, e cerca de 5 milhões de crianças estão em risco de se juntar a essa estatística. Na guerra do Congo já morreram cerca de 6 milhões de pessoas em 25 anos, em algumas zonas a violência sexual atinge 70% das mulheres, e só numa província (Norte Kivu) estão identificados 130 grupos armados. Na Síria já morreram cerca de 500.000 pessoas, há 5 milhões de refugidos em viver em condições de desespero e mais de 6 milhões de deslocados sem dinheiro sequer para passar a fronteira. “E o que é que eu posso fazer?”. É nesta frase que nos refugiamos, é aqui que cavamos o fosso da humanidade e nos protegemos e perdoamos pela nossa inação! Mas há sempre alguma coisa que podemos fazer. Há sempre.
O PAN quadruplicou a sua presença no parlamento à custa do seu activismo pelos animais e natureza. Porquê? Porque efectivamente há uma preocupação crescente com a casa onde vivemos. E ainda bem que o activismo pelo planeta tem ganho um espaço prioritário na cabeça e nos corações da maioria das pessoas. Mas o que é cada cidadão português e Portugal na sua pequenez mundial pode fazer para salvar o planeta? Pode fazer a sua parte. Tão simples quanto isso. E pela humanidade o que é que estamos a fazer? Nada!
Se alguém na assembleia da república ousar perguntar o que é que Portugal está a fazer para combater as 500.000 mortes de crianças por ano em África (todos os anos!) de Malária, certamente que a resposta será que em Portugal também há pessoas sem médico de família. Sem se perceber o quão desumana é esta junção de premissas, deixamos o mundo girar.
“A culpa é dos políticos!” é outro dos nossos refúgios preferidos. No entanto esquecemo-nos que em democracia, os políticos não são líderes, são seguidores. Seguem as vontades de quem os elege. E são eleitos pelas nossas vontades. Sejam políticos por convicção ou oportunismo, são as nossas vozes que os fazem falar!
Gritemos pela Humanidade que vos garanto, alguém nos vai dar as respostas. As soluções serão duras, complexas, demoradas e vão necessariamente envolver uma grande fatia da população mundial, assim como as que estão implicadas em salvar o planeta. Mas são possíveis. E o que nós temos que fazer enquanto indivíduos e enquanto país, é muito simples: façam ver na vossa opinião, na vossa voz, no vosso voto que todos os seres humanos são iguais e têm os mesmos direitos.
O segredo é compreendermos o enorme poder da nossa individualidade. Parece pouco, mas é tudo.
Façam a vossa parte. Façam-NOS pensar no mundo.