Adolescência e identidade: perder o norte
Passamos toda uma vida a tentar descobrir qual o seu sentido. Debatemo-nos com sermos de muitos tons, muitos feitios, muitas arestas; questionamos a nossa essência, no mais fundo do nosso ser qual a cor da nossa verdade.
Batalhamos com e contra a eterna dúvida de onde devemos estar, qual o nosso lugar, a ambivalência entre o voar e o fazer ninho.
E para fechar esta complexa tríade, que parece ter bem mais que três faces, sobra saber: os nossos objetivos — o que faço aqui?; qual o caminho a seguir — e são tantos e são infindos; com quem o seguir — há trilhos tão estreitinhos que temos de nos aventurar a solo; e o quando — pois os timings da vida são verdades insondáveis.
A questão da identidade é uma luta efémera, ou tão efémera quanto a nossa existência, que na adolescência se eleva como um grito. Aí, desabrocha o pensamento crítico, reflexivo, do ousar ir mais além. O corpo dos adolescentes muda, a cabeça rodopia, as ideias são ondas do mar que se enrolam num turbilhão de espuma, por vezes incompreensível.
A casa onde crescem já não parece tão sua, os braços que os agarram são sustento e são garrote, os que os rodeiam, uma constante metamorfose, tal como eles, difícil de acompanhar. Sentem-se sozinhos, aves desnorteadas voando contra a maré.
É uma viagem atribulada que começa sem aviso e com munições precárias. Pede-se muito deles. Pede-se que estejam mais que habilitados a escolher as linhas com que se coserão (e enrederão) para o resto da vida. Pede-se certezas, quando só veem um mosquedo de pontos de interrogação. Pede-se aquilo que, provavelmente, nenhum centenário saberá.
Também nós não temos uma resposta inquestionável para as perguntas que nos quiserem colocar. Por vezes, basta saberem que estrebuchamos nos mesmos problemas, pugilistas do mesmo ringue, que não vai custar tanto dentro de alguns anos, temos provas dadas, e que, dentro do enigma que é a vida, haverão de avistar o tal sentido, de que forma seja, pode ser uma placa a dizer que o Norte é por ali.