Agnaldo Farias é o novo curador da Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra – Anozero’19

por Diogo Senra Rodeiro,    11 Fevereiro, 2018
Agnaldo Farias é o novo curador da Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra – Anozero’19
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Estão lançados os dados para o começo de mais 730 dias antes de a Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra – Anozero’19 – possa voltar a impactar a cidade com a apresentação da nova curadoria.

O convidado para curador-geral é Agnaldo Farias, professor da Universidade de São Paulo no Departamento de História da Arquitetura e Estética que também é o curador-geral do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, no Brasil. Estudou Arquitetura e Urbanismo na Universidade Braz Cubas (São Paulo), fez mestrado em História pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), tendo-se doutorado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), em 1997. Entre 1990 e 1992 foi também assessor de artes plásticas da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo e entre 1998 e 2000 foi o curador-geral do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ).

Na sua experiência conta já com a curadoria da Bienal de São Paulo, uma das mais importantes bienais a nível mundial e quiçá a mais renomada do Brasil, não estivesse já na sua 33ª edição que irá estrear em Setembro deste ano. Foi em 2002 que foi responsável pela curadoria da representação brasileira da 25ª Bienal de São Paulo, tendo sido ao lado do curador Moacir dos Anjos que assinou a curadoria-geral da 29° Bienal de São Paulo.

O que até agora pode ser revelado, por ainda não haver orçamento traçado e outros detalhes que são preponderantes para iniciar a preparação devida, é o tema que irá dar o nome à Anozero’19 – A Terceira Margem do Rio. Retirado de um “intrigante conto” de João Guimarães Rosa, ilustre contista e diplomata brasileiro do século XX, justifica o novo curador dizendo que “Um rio não tem a primeira e a segunda margem, tem duas. A terceira margem é aquela que não está, que vive em suspensão. É a margem formada pela linha entrecortada da espécie onde uma ponte se cola à outra, como mais uma margem de beiras largas.” No entanto acrescenta que é pelas “imagens e objetos que produzimos” que ousamos a fusão com a eternidade, onde “pretendemos ser esse rio, água que não para, de longas beiras.” – a ideia do rio como tempo.

O brasileiro não consegue deixar de admitir que a literatura e a poesia têm uma grande influência na sua obra: por isso Farias resgatou Rimbaud, Kundera, Dante desta margem do Atlântico como também Carlos Drummond de Andrade, Octavio Paz ou Nelson Rodrigues, do outro lado do Atlântico, para explicar as ideias que tem para esta bienal.

As margens do Mondego são fixas, pelo menos aparentemente, e “dentro disso, há qualquer coisa que é contínua” adiciona. Louvável é a forma como o paulista olha para a cidade que irá pintar, construir, desenhar dentro em breve, quando diz que a mesma “vista por fora, é uma referência muito sólida. É quase um mito. Tem essa dimensão de cidade ancorada na produção do saber. Por isso é que tem que se renovar com estes questionamentos da arte. A ideia de uma bienal em Coimbra é vital para a cidade. Para que mantenha sempre esse pé no devir.” Foi este o seu depoimento na conferência de Imprensa que contou com a presença do diretor do Centro de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC) Carlos Antunes, da Vereadora da Cultura da Câmara de Coimbra Carina Gomes e ainda da Vice-Reitora da Universidade de Coimbra Clara Almeida Santos – representantes das entidades organizadoras desta iniciativa.

Pelo que foi falado, com a qualidade do currículo com que Agnaldo se apresenta, pela ligação que tem à Bienal de Veneza, podemos ficar com a certeza que não só a curadoria fica em boas mãos, a internacionalização é algo ainda mais premente, a qualidade irá aumentar e o Mondego ganhará uma outra margem. Na edição de 2017 a cidade foi levada a uma “dança” entre os que a visitaram e as obras nos locais onde estiveram expostas. Em 2019 acredito que se tratará da ocasião inédita de quem tiver a curiosidade de “mergulhar” nesta bienal, poder experienciar um rio que vem, mas não volta, apenas tendo como missão transmitir a ideia de que a eternidade pode ser atingida por vezes em algumas ocasiões, mas nem sempre todas as vezes – e quase sempre quando menos o esperamos.

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