‘Alvorada Beat’: o frenesim harmonioso de El Señor
Há uma certa beleza quando uma banda apresenta o seu primeiro EP, e o público extasiado, no final do concerto, pede mais e mais, ao que um dos membros responde «obrigado pelo carinho, mas não temos mais músicas». No meio de uma ovação que enche o espaço, repetem uma das suas canções já tocadas no inicio da noite, não se cansando de agradecer ao público todo o carinho e calor humano. Assim foi o concerto dos El Señor na apresentação do recente Alvorada Beat.
Mal começa a tocar o disco e olhamos para a duração das músicas, ficamos de imediato a saber que aquele vai ser um de muitos álbuns riscados, daqueles que ouvimos vezes e vezes a fio, e inevitavelmente voltamos a comprar porque há que manter uma cópia fiel na coleção lá de casa.
Os El Señor são o tipo de banda que deixa qualquer um irrequieto com o seu rock a compasso certo, com influências dos anos 60 e 70, infundidas com a transpiração de uma banda de garagem que partilha connosco estas canções num frenesim digno de palcos bem grandes (e espaços a condizer para os moshes suados, claro).
O arranque com “Dazzled” antevê de imediato uma eletricidade que não deixa ninguém indiferente. A fusão perfeita entre o compasso da bateria de Vítor, o baixo de Michel e os riffs de Guilherme resulta numa sonoridade irrequieta que nos deixa a ansiar por mais. Segue-se “Monday”, capaz de afastar aqueles blues de início de semana sem qualquer dificuldade, numa mescla de doçura na voz de Guilherme e riffs melancólicos. “Another Time” afirma-se como o hino dos moshes nos concertos de El Señor. Há uma atmosfera contagiante em toda a música que é incapaz de deixar alguém parado, ou mesmo indiferente.
O single de avanço “Alvorada Girl” surge já a caminho do fim, assim como uma vontade de voltar a ouvir tudo de novo. Por entre um refrão que nos fica no ouvido e uma sonoridade ideal para uns passinhos de dança, damos por nós enfeitiçados pela harmonia tão bem conseguida deste single. O curto álbum termina com “Dragging Smiles”, uma música que nos arranca um sorriso logo desde o início. A sonoridade eleva-nos a um plano de felicidade em que cada compasso nos palpita pelo corpo, e onde a música se sente como uma extensão de nós, mais do que algo exterior a nós.
O álbum termina e queremos mais músicas. Enquanto não nos é ouvida a prece, vamos repetindo o Alvorada Beat e, volta e meia, bailando nos concertos da banda, na harmonia que este álbum exige.