‘Ammore e Malavita’: do kitsch ao musical
‘Ammore e Malavita’ é um filme, dos irmãos italianos Marco e Antonio Manetti, estreou no 74.º Festival de Cinema de Veneza, e foi primeiramente apresentado nas salas portuguesas através da 11.ª Festa do Cinema italiano.
Um filme que se manifesta imediatamente pela sua extravagância, tem como palco a cidade de Nápoles, e como não podia deixar de ser, faz uma pintura criminal sobre a vida dos habitantes desta cidade.
Esta excentricidade que falamos começa logo nos primeiros minutos de filme, quando entendemos que se trata de um musical sobre máfia. Ao contrário do que esperamos, é um filme quase todo cantado e narrado em italiano, e cria directamente uma passagem para a sua vertente mais cómica.
Este filme marca o regresso ao cinema dos irmãos Manetti, e fala das melodias de Nápoles, centra-se na sua beleza, nas cores, paisagens, tradições e revela um submundo onde toda a narrativa do filme acontece. Começa no funeral do sapateiro, que canta as suas inquietudes, e o choro da viuva teatral, Donna Maria. Nesta estranheza irónica, somos transportados então para a história de Don Vincezo, o ‘Rei dos peixes’ e também ele chefe da Camorra, que simula o seu próprio assassinato para fugir aos seus oponentes. Tudo começa a sair fora do planeado, quando é avistado no hospital com vida, pela enfermeira Fátima. Ciro e Rosario são encarregues de matar Fátima, acabando como todas as testemunhas, até que começamos a perceber que Ciro reencontra seu amor de adolescência, Fátima. A partir daqui tudo de centra na história de amor dos dois, e na fuga de uma inteira máfia.
Este exagero na interpretação das personagens, faz lembrar um todo drama teatral, que causa peripécias caricaturescas, que fazem parte do retracto das grandes famílias italianas. A actriz Claudia Gerini, que interpreta Donna Maria, torna-se na personagem mais hilariante, e mais hiperbólica de todas. É um filme que se torna engraçado, pela sua vertente irónica e não convencional, que arrisca e sai fora dos padrões habituais, que fica no prótotipo mais kitch que se possa imaginar.
Tudo são melodias, e cantigas, todos os momentos de crime tornam-se leves e humorísticos e são levados a um ritmo rápido como se fossem minutos de uma música. Pode-se dizer que é um filme que viaja pelos culturalismos e pelas expressões típicas de uma cidade, um sotaque e uma forma de estar, são estas as pequenas características que identificam o filme como sendo uma espécie de neotelenovela italiana.
Todas estas fatalidades identificam muito bem os estereótipos napolitanos, marca um regresso do espectador à “little italy”, e torna-se um filme bem conseguido, principalmente na sua montagem, e na adição dos momentos musicais, que acontecem sempre num crescente dramático e num momento de crise. Os irmãos Manetti conseguem regressar com um musical mediterrânico, um filme agitado que ninguém esperava ver!