Após trinta e dois anos da queda do Muro de Berlim ainda há muitos muros por quebrar
Passaram trinta e dois anos desde que a queda do Muro de Berlim pôs fim à Guerra Fria, marcando assim uma das datas mais importantes do século XX.
Passadas mais de três décadas, é altura de refletir sobre o que mudou desde então e, observando a realidade atual, podemos perceber que o derrube de um muro não impediu que outras barreiras se mantivessem erguidas. Os novos movimentos sociais, nomeadamente ligados à esquerda, têm lutado para quebrar essas barreiras, mas as políticas nacionalistas teimam em manter de pé os «muros».
Desde o século XX assistimos a um crescente fluxo de movimentos migratórios, mas na última década esse fluxo tem crescido drasticamente e entram cada vez mais migrantes na Europa vindos do Mediterrâneo em busca da vida digna que lhes foi tirada nos seus países de origem. Chegados à Europa, deparam-se com condições inimagináveis em campos de refugiados, onde acabam por permanecer precariamente. Dentro da União Europeia discutem-se as condições desses migrantes e muitos estados-membros acabam por receber alguns deles, dando-lhes dignas condições de vida. Por outro lado, outros países continuam a colocar obstáculos à sua entrada, recusando-se mesmo a colaborar na ajuda e em serviços prestados. O governo húngaro de Viktor Orbán, inclusive, aprovou uma lei que criminaliza a ajuda a refugiados, criando não só uma barreira ao seu acolhimento na Hungria como também impede a ajuda que muitos pretendem prestar-lhes.
Observando o outro lado do Atlântico, vemos os Estados Unidos da América a construir um muro há vários anos na fronteira com o México de forma a impedir a passagem clandestina de mexicanos. Esse muro continua a crescer, mas a entrada de mexicanos nos EUA mantem-se.
Na Faixa de Gaza, o povo palestino continua isolado, preso e impedido de sair do território pelos israelitas que controlam o abastecimento local de bens essenciais. Os palestinos só têm autorização para sair do território em ocasiões excecionais como a morte de um familiar, e ainda assim a saída é-lhes muitas vezes negada.
Refletindo sobre realidade atual percebemos que após trinta e dois anos da queda do Muro de Berlim, é altura de quebrarmos mais barreiras, deitar abaixo mais muros e abrir portas a um mundo multicultural onde a aceitação prevaleça.
Crónica de Rafael Pestana
Rafael Pestana é licenciado em História Moderna e Contemporânea e estudante de mestrado em Estudos Internacionais, com especial interesse em Direitos Humanos e Movimentos Migratórios.