Aprender sobre cinema com os filmes de Sidney Lumet
A capacidade de extrair o melhor de cada actor e combinar essa essência com uma técnica aprimorada, argumento sólido e absorvente, é uma característica rara na maioria dos realizadores. Apenas os grandes mestres conseguiram criar vários filmes com todos estes elementos. Falamos de Akira Kurosawa, Stanley Kubrick, Andrei Tarkovsky, David Lean, Jim Jarmusch e pois claro, Sidney Lumet.
Cada filme de Lumet é uma aula de cinema. Network, 12 Angry Men ou The Verdict são apenas alguns dos exemplos onde assistimos a uma técnica eximia, realização, montagem, fotografia, enquadramentos, luz, combinado com interpretações intensas e profundas e um argumento detalhado, complexo, mas ao mesmo tempo fácil de interpretar por qualquer espectador.
Esta capacidade de combinar diversos elementos constituintes de um filme de forma tão brilhante e com conteúdo de tanta qualidade, mas ao mesmo tempo simples, é rara na maioria dos realizadores. Sidney Lumet sobressai a grande parte dos realizadores por vários motivos: Os argumentos dos seus filmes não são escritos por si, o que revela uma enorme capacidade de compreensão de diferentes tipos de realidade e escrita, e também uma enorme capacidade de adaptar esses argumentos de forma tão brilhante a imagem em movimento; não utiliza sempre os mesmos actores, o que também revela mestria em potenciar interpretações e personagens, sendo capaz de tornar qualquer papel em algo mais do que uma simples interpretação; não costuma trabalhar com o mesmo director de fotografia – este é provavelmente o aspecto que mais surpreende, já que a cinematografia da maioria dos filmes de Lumet é de topo, com enquadramentos de génio, luz cuidada, elementos técnicos que acabam por funcionar como próprios personagens nos seus filmes. Este detalhe revela que Lumet, além de ter uma grande compreensão de escrita/argumento e capacidade em elevar essa escrita a realidade, catapultando os actores/personagens, é ainda capaz de explorar tecnicamente todos os detalhes que compõem um filme.
The Verdict (1982) é um dos exemplos mais claros da obra de Sidney Lumet. Paul Newman vinha de alguns fracassos de bilheteira e de um momento algo conturbado na sua carreira, já que os seus filmes não estavam a ter o sucesso esperado. Embora estejamos a falar de um dos melhores actores de sempre, não é fácil voltar a conquistar a confiança do público e principalmente da academia (embora tenha estado de 1969 a 1982 sem ser nomeado para os óscares, voltou a ser nomeado em 1982 com o filme Absence of Malice de Sydney Pollack, o que voltou a devolver-lhe alguma confiança. Sidney Lumet consegue 5 nomeações para Óscar com The Verdict e acima de tudo consegue dar força a um jovem escritor de peças de teatro, David Mamet, sem dúvida influenciado por Lumet nos seus filmes (House of Games e Redbelt são dois claros exemplos).
Falar de Lumet é falar naturalmente da sua mestria em construir Network, o filme de 1976 que revolucionou a forma como víamos os media e que conquistou 5 Óscares. Dog Day Afternoon, Serpico, 12 Angry Men, e mais recentemente Before the Devil Knows You’re Dead, são sinónimo da melhor aula sobre cinema que alguém pode ter. E é esta capacidade em ensinar através dos seus filmes que torna Lumet tão especial e o coloca no patamar dos melhores realizadores de sempre. Esta capacidade em entender o mundo à sua volta e transpor esse universo para imagens em movimento torna os seus filmes um autêntico curso de cinema, sem que tenhamos que perceber bastante do assunto. Este ano assinalam-se 7 anos da morte de Sidney Lumet, mas na verdade os grandes mestres nunca morrem, já que vão ensinar as gerações seguintes a apreciar bom cinema e a aprender um pouco mais sobre esta magnifica arte.