“As Invisíveis”, de Rita Pereira Carvalho: uma oposição ao lado invisível da classe trabalhadora

por José Moreira,    10 Fevereiro, 2023
“As Invisíveis”, de Rita Pereira Carvalho: uma oposição ao lado invisível da classe trabalhadora
Capa do livro
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Neste “As Invisíveis – Histórias sobre o trabalho de limpeza” a jornalista Rita Pereira Carvalho (1993) propõe-se a dar visibilidade a um dos trabalhos mais invisíveis da nossa sociedade: as limpezas, e às mulheres e homens que o constituem. Este desafio surgiu através de António Araújo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, entidade que publica este pequeno livro na sua coleção “Retratos da Fundação”.

A autora começa por afirmar que “há pessoas que são socialmente invisíveis, e há igualmente uma barreira responsável pela separação de pessoas e classes sociais”. Partindo desta noção de invisibilidade, disserta sobre o valor imaterial e humano gerado pela atividade dos trabalhadores das limpezas, da industrial à corporativa, da doméstica à pública. Relata os percursos diários, e de vida, das mulheres das limpezas, e de um homem no último capítulo. Oferece assim um olhar íntimo sobre as dificuldades profissionais, pessoais e sociais com que se deparam. Tenta também contextualizar a profissão através de vários indicadores, sendo que o ponto mais claro é a esmagadora maioria de mulheres que cumprem funções de limpeza, tendo como principal ponto comum a classe social de origem.

“Nenhuma mulher nasce empregada de limpeza, mas muitas nascem com uma ou várias vantagens sociais que permitem escolher outros caminhos, estruturalmente mais bem aceites e vistos com melhores olhos.”

“As Invisíveis”, de Rita Pereira Carvalho

O tema é de facto importante, e visa gerar a reflexão sobre estas pessoas que passam despercebidas a tantos de nós. Estas profissões, que foram das que praticamente não puderam parar durante a pandemia, ganharam um estatuto de trabalhador essencial (mesmo que não assumido socialmente). Humanizar estes papéis que permitem o funcionamento dos nossos transportes, empresas, hospitais e outros, constitui uma dívida de gratidão social.

“A partir de março de 2020, quando teve início o confinamento e o número de casos de infeção começou a aumentar, muitas empregadas foram contratadas para os hospitais. No fundo, não se tratava de novas contratações, mas sim da deslocação para os espaços do Serviço Nacional de Saúde de funcionárias que limpavam determinadas empresas temporariamente fechadas.”

“As Invisíveis”, de Rita Pereira Carvalho

Este é um ótimo exercício de oposição ao lado invisivel da classe trabalhadora, no entanto, fiquei com um ligeiro sentimento “incompleto” em relação a este livro. Para ser justo, leva-me a abordar uma noção necessária para quem não esteja familiarizado com o formato dos “Retratos da Fundação”: existe uma certa limitação ao volume de cada obra publicada, o que neste caso (e noutros da mesma colecção) me deixou com a sensação de faltar desenvolvimento a alguns dos capítulos e conteúdos do livro, fica a “saber a pouco”. Isto sem tirar mérito ao que nos é apresentado, pois fiquei a querer saber mais.

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