‘As Long as I Have You’: o espírito dos The Who continua vivo em Roger Daltrey
As Long as I Have You é o nome do álbum que marca o regresso de Roger Daltrey aos álbuns de estúdio. O músico que se tornou mundialmente conhecido por ser o vocalista dos The Who – uma das mais influentes bandas rock dos anos 60 e 70 – regressa com um novo álbum a solo 26 anos depois de Rocks in the Head, lançado em 1992. O músico prosseguiu numa carreira a solo após o fim da banda, fim esse catalisado pelo desaparecimento precoce do mítico baterista Keith Moon. Daltrey convidou para este álbum o guitarrista Pete Townshend para participar em algumas das suas canções, havendo marcas daquela guitarra tão característica da banda britânica que marcou toda uma geração. O resultado é um álbum com material interessante composto por algumas surpresas, nomeadamente covers de outros artistas influentes, mas de outros registos musicais, como Nick Cave ou Stevie Wonder, bem como algum trabalho seu, até à data desconhecido.
Gravado aquando das comemorações dos 50 anos da banda, a voz de Roger Daltrey mantém-se viva como aquela que se ouvia em meados dos anos 60 quando o conjunto britânico procurava a sua afirmação, matendo-se igualmente intensa e sem grande desgaste apesar dos seus 74 anos bem recheados. Embora se tenha encontrado no activo nos últimos anos, em concertos a solo e com Pete Townshend, o seu nono álbum de estúdio vem dar ânimo a uma carreira musical de grande sucesso e que ainda terá muito para nos oferecer, sendo que os seus primeiros trabalhos a solo foram feitos durante o tempo livre que conseguiu ter enquanto vocalista dos The Who.
O álbum inicia-se com a faixa com o mesmo nome e que foi dada a conhecer ao público em Março deste ano, uma canção em ritmo acelerado que junta à voz predominante de Roger Daltrey os coros femininos de fundo, bem como a guitarra de Pete Townshend e um piano e um saxofone incansáveis. Segue-se “How Far” – canção original de Stephen Stills – uma balada que remete um pouco para as canções tradicionais de grande sucesso dos The Who durante os anos 60 e 70, fortemente marcada pela guitarra acústica e uma letra típica do movimento musical da época. “Where Is A Man To Go?” é outro exemplo do estilo de canção em que Roger Daltrey exibe a sua voz tal como faria enquanto vocalista dos The Who, tendo um compasso musical semelhante àquele rock tão sedutor que atraía cada vez mais seguidores numa das melhores épocas musicais de uma era.
“Get On Out Of The Rain”, quarta faixa do álbum, é um cover da canção de 1970 da banda de funk norte-americana Parliament, numa versão mais moderna e arrojada, com uma maior intensificação vocal e instrumental do que a versão original. “I’ve Got Your Love” possui um registo mais calmo, seguindo-se de “Into My Arms”, cover da ilustre canção de Nick Cave numa versão do mesmo estilo, com a sua melodia bastante agradável. O registo volta a um tom mais agressivo em “You Haven’t Done Nothing”, canção original de Stevie Wonder interpretada num registo mais rock que a original, não perdendo a sua essência e qualidade.
“Out of Sight, Out of Mind” trata-se de uma canção composta essencialmente por piano, instrumentos de sopro e coros que acompanham a voz de Roger Daltrey, tal como “Certified Rose”, canção que consegue dar uma maior identidade ao álbum. “The Love You Save” mantém-se no mesmo registo calmo acompanhado por tons suaves da guitarra eléctrica de Pete Townshend. Por último, chegamos a “Always Heading Home”, onde é possível ouvir-se ao longo da canção o tom sublime de um violoncelo que encerra o mais recente trabalho musical de uma das maiores vozes do rock de sempre.
Apesar de ser um álbum cheio de altos e baixos em termos musicais, As Long as I Have You mostra-se como um trabalho bem conseguido, que enaltece as características musicais de Roger Daltrey com traços muito alusivos à sua presença nos The Who, assim como outros registos adquiridos ao longo do seu percurso a solo. O músico, cantor e compositor britânico mostra assim que o espírito dos The Who, bem como a sua postura musical, continuam vivas e têm ainda muito para nos oferecer, mostrando uma energia física e musical invejável.
Este é mais um sinal de que os grandes ícones do rock dos anos 60 e 70 não serão esquecidos; a prova é que muitos deles continuam à procura de novos caminhos mantendo-se fiéis ao seu estilo próprio, correspondendo às expectativas do público e às correntes musicais dos novos tempos. Roger Daltrey é um dos grandes exemplos de músicos que seguem esta máxima e que traz tudo de melhor à sua vasta carreira, esperando-se assim que prossiga com muitos outros trabalhos que ainda hão-de vir e que permitirão elevar ainda mais o seu estatuto musical.