‘Atelier de Tempos Mortos’ na Companhia do Chapitô até 26 de Março

por Carla Sancho,    5 Fevereiro, 2017
‘Atelier de Tempos Mortos’ na Companhia do Chapitô até 26 de Março
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Uma pedra. Com dimensão suficientemente grande para se moldar a objectos domésticos como um prato, ou a várias maleitas físicas como corcundas ou inchaços genitais.

Quatro caixas de madeira robustas, sob o peso pesado dos dias incertos. Uma mulher, três homens, em movimentos sincronizados em fracções de tempo. Adereços, poucos e multifuncionais. Luz na sombra da demência, de um chuveiro sob silhuetas nuas, que poderiam ser de um campo de sofrimento humano. A evidência do cuidar dos outros como mote de arranque a toda uma série de episódios fugazes da vida de todos nós.

A pedra que cai no estremecer do palco, num fio falacioso da realidade abortada na admiração. A pedra que pesa no equilíbrio de um pescoço, na tentativa de se manter erectus. “Falta-me a palavra!”, na procura incessante de adjectivos qualificativos da personificação.

“Atelier de Tempos Mortos” é um carrossel em movimentos circulares de episódios das vidas contemporâneas. No humor corporal, a inteligência da verdade dolorosa de todos nós. Notícias dos media que nos enchem os vazios da auto-crítica, as ausências de disponibilidade de tempo, de amor, de afecto, de gratidão. O outro e os outros que se tornam empecilhos de gente, os velhos, os dementes, os socialmente não produtivos. A mentira intrincada nos poros das nossas defesas, como se fossem poços de ar a proteger o amor incondicional dos progenitores. Gargalhadas que rapidamente se fundem em lágrimas de remorsos, de olharmos como espectadores o reflexo das nossas próprias dores.

“E agora o tempo: Aumento acentuado de manchas de melanina em todas as extremidades. Vento forte, com esquecimento moderado a partir da região frontal. Ligeira depressão no interior com deformação de geada.”

Com direcção de Cláudia Nóvoa e José Carlos Garcia, e excelente interpretação de Jorge Cruz, Ramos de Los Santos , Susana Nunes e Tiago Viegas, a Companhia de Teatro do Chapitô estará em cena com “Atelier de Tempos Mortos” de quinta a domingo às 22h, até 26 de Março. A sala não é muito grande, por isso aconselha-se que se efectivem as reservas com celeridade através do contacto telefónico: 218855550.

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