Atriz Judith Godrèche pede nos prémios César que cinema francês enfrente a verdade sobre violência sexual
A atriz Judith Godrèche, que ganhou destaque na luta contra a violência sexual no cinema francês, denunciou hoje o “nível de impunidade, negação e privilégio” da indústria, sendo aplaudida de pé durante a cerimónia dos prémios César.
“Por que aceitar que esta arte que nos une seja usada como disfarce para o tráfico ilícito de meninas?”, questionou a mulher que ‘libertou’ outras pessoas a falarem sobre o assunto em França, ao apresentar uma queixa contra os realizadores Benoît Jacquot e Jacques Doillon, por violência sexual e física durante a adolescência, acusações que este último nega.
“É preciso ter cuidado com as meninas, elas atingem o fundo da piscina, magoam-se, mas recuperam”, acrescentou, apelando às vítimas para acreditarem.
A cerimónia decorreu sob alta tensão, com vítimas de violência sexual e de género à espera que o evento seja um marco. A questão surgiu de imediato, nas palavras introdutórias da ‘chefe’ da cerimónia, a atriz Valérie Lemercier.
“Não sairei daqui sem elogiar aqueles que estão a abalar os hábitos e costumes de um mundo muito antigo onde os corpos de uns estavam implicitamente à disposição dos corpos de outros”, frisou esta atriz.
Igualmente simbólico, a Academia de Artes e Técnicas Cinematográficas francesa atribuiu o seu primeiro prémio, o César de melhor atriz secundária, a Adèle Exarchopoulos, por “Sempre verei os vossos rostos”, onde interpreta uma vítima de incesto.
Antes da cerimónia, cerca de uma centena de pessoas manifestaram-se em frente ao teatro onde decorreu o evento, a pedido do sindicato CGT, para apoiar as vítimas.
“Todos juntos podemos realmente ajudar as coisas a mudar, um mundo verdadeiramente melhor pode abrir-se”, declarou a atriz Anna Mouglalis, que acusou os realizadores Philippe Garrel e Jacques Doillon de a terem agredido sexualmente.
Ainda antes da abertura das festividades, a ministra da Cultura francesa Rachida Dati, também presente, criticou uma “cegueira coletiva” que “durava há anos” no setor do cinema, em entrevista à revista Le Film French.
“A liberdade criativa é total, mas aqui não estamos a falar de arte, estamos a falar de crimes infantis”, referindo-se a Judith Godrèche.
Da acusação de violação e agressão sexual de Gérard Depardieu às acusações feitas por Judith Godrèche, seguida de outras atrizes, a violência sexual assombra o cinema francês mais do que nunca.
O ator Aurélien Wiik lançou a ‘hashtag’ #MeTooGarçons na rede social Instagram esta quinta-feira.