Audra McDonald traz esperança ao teatro musical português
A multigalardoada actriz norte-americana Audra McDonald esteve em Lisboa na passada quarta-feira para uma conversa com jovens actores e admiradores onde evidenciou que Portugal tem as bases e capacidades para desenvolver mais projectos de teatro musical.
Foi com o auditório esgotado da Biblioteca Orlando Ribeiro, no Lumiar, que Lisboa recebeu uma das actrizes mais consagradas do teatro musical norte-americano e vencedora recordista dos prémios Tony (os óscares do teatro americano). Audra McDonald foi a artista convidada para uma sessão de perguntas e respostas que abriu a edição deste ano do “Musical Theater Summit”, um evento de workshops e masterclasses focados em teatro musical.
A actriz abordou as suas origens e o processo de aprendizagem das tábuas do teatro até às aulas de canto clássico na famosa Julliard, a escola de referência de artes performativas em Nova Iorque, passando pelas peças que marcaram a sua carreira.
Ao longo da conversa, entre perguntas e respostas, deu conselhos a jovens aspirantes a actores como enfrentar a pressão dos palcos, processo que a própria foi aprendendo ao longo dos anos. Recordou as palavras do mentor Stephen Sondheim, um dos mais reconhecidos compositores de musicais, “a arte não é fácil”, explicando que é necessário muito trabalho e dedicação para vingar nesta área.
Defensora de políticas públicas da educação para as artes nos Estados Unidos, a actriz enfatizou a necessidade de se promover também em Portugal as potencialidades do teatro musical enquanto manifestação artística. Audra McDonald referiu que “pode-se muito facilmente subestimar o público e pensar que não vai aderir a uma produção e isso está absolutamente errado porque os temas do teatro musical são universais e espero que cresça e se desenvolva aqui em Portugal. As sementes estão plantadas e o talento já cá está. Os produtores e aqueles que investem têm de acreditar e não subestimar o público. Porque ele vai aparecer”.
A actriz mencionou que “há uma semelhança entre o fado e o teatro musical, especialmente na forma como as canções são interpretadas e as histórias contadas e cantadas”. Revelou ainda que se apaixonou por Portugal e recentemente comprou casa em Lisboa.
Mas na conversa intimista dinamizada pela Musical Theater Lisbon — um projecto que quer dinamizar uma cultura de teatro musical em Portugal — Audra McDonald recusa qualquer preconceito que possa haver com o teatro musical, uma vez que quer num musical, quer numa peça [tradicional] “continuamos a interpretar uma personagem que tem necessidades e desejos”. Assumiu ainda que aquilo que mais a cativa enquanto espectadora é a autenticidade que um actor/cantor entrega a uma personagem: “se um actor for autêntico, vou viajar com ele naquela história. E isso também se traduz na autenticidade do som. Não preciso que outro cantor se pareça com a Judy Garland, já a temos. Não preciso que mais ninguém se pareça com a Ariana Grande, nem precisamos que alguém se assemelhe à Audra McDonald. Já temos uma. É importante usarem a vossa voz e soarem a vocês próprios”.
Essa autenticidade também é aquilo que, enquanto actriz, Audra procura transmitir e, por isso, tenta procurar papéis com os quais tem de aprender. “Os papéis que me movem são aqueles que me tocam no fundo da alma e que ainda não descobri. É estar na pele de alguém em que não me consigo rever, como o espectáculo que acabei de fazer [Ohio State Murders]. A minha personagem passa por coisas pelas quais nunca passei e espero não passar, como a morte dos filhos, mas acho importante tentar aproximar-me e tentar perceber essa história e essa vida. Por isso é preciso ir bem fundo e explorar a dimensão humana”.
Audra McDonald já venceu seis prémios Tony (aos 28 anos já tinha três), a única pessoa que venceu em todas as categorias de representação, dois Grammy e um Emmy. Integrou produções que marcaram a história do teatro musical como Caroussel, Ragtime, Porgy and Bess, entre muitas outras e participou em séries como Private Pratice, The Good Fight ou a recente Gilded Age.