“Banzo”, de Margarida Cardoso, estreia a 23 de Janeiro e retrata o passado colonial e as roças de São Tomé e Príncipe

Banzo, novo filme de Margarida Cardoso produzido por Uma Pedra no Sapato e com Carloto Cotta e Hoji Fortuna nos principais papéis, chega aos cinemas portugueses a 23 de Janeiro. Há já sessões especiais confirmadas em Lisboa (23, 25 e 26 de Janeiro, Cinema Ideal; 25, Cinema Nimas; 28, Cinemacity Alvalade), Porto (24, Cinema Trindade), Coimbra (27, Casa do Cinema de Coimbra) e Santarém (29, Cineclube de Santarém) com a presença da realizadora, do elenco e de vários convidados.
A acção do filme, rodado entre São Tomé e Príncipe e Portugal, situa-se no começo do século XX. Acompanhamos Afonso (Carloto Cotta), que recomeça a vida numa ilha tropical na costa africana como médico de uma plantação de cacau, onde terá de curar um grupo de serviçais “infectados” pelo banzo, a nostalgia das pessoas escravizadas. Morrem às dezenas, de inanição ou suicidando-se. Por receio que a nostalgia profunda se espalhe, o grupo é enviado para um morro isolado, chuvoso, cercado pela floresta.
Alphonse (Hoji Fortuna), por seu turno, é um fotógrafo também acabado de chegar à ilha, uma personagem que Margarida Cardoso descreve como “um ‘agente secreto’ num mundo e num sistema colonial que lhe é hostil mas onde se move cuidadosamente tentando encontrar uma oportunidade de o minar desse ponto tão próximo e interior onde se colocou”. Afonso e Alphonse “são personagens complementares, cada qual em seu mundo, mas no mesmo mundo, cada qual com a sua função”, acrescenta a realizadoa.
Os elementos para a narrativa de Banzo começaram a aparecer durante a pesquisa e as filmagens de Understory (2019), ensaio pessoal de Margarida Cardoso sobre o cacau e todas as suas ramificações culturais e económicas. “Quando comecei a escrever o filme já tinha alguns anos de pesquisa sobre as plantações — neste caso as que existiram em São Tomé e Príncipe, antiga colónia portuguesa — e nesse processo acedi a muitas fontes descartadas da história oficial por serem relatos do quotidiano ‘sem importância’, de pessoas também sem muita importância na hierarquia de poder estabelecida; os relatórios e diários dos médicos, as queixas dos serviçais arquivadas na curadoria, os bilhetes, por vezes repletos de erros ortográficos, que os capatazes escreviam entre eles. Todas essas leituras me revelaram um mundo de uma violência banalizada onde as relações humanas tomam formas extremamente complexas. O que me interessou, e tentei recriar no filme, foi essa dimensão onde os sistemas de exploração da terra e dos Homens claramente destroem e encurralam, física e moralmente, todos os que neles participam, voluntária ou involuntariamente”, refere Margarida Cardoso.
A terceira longa-metragem de ficção da realizadora conta ainda no elenco com Rúben Simões, Gonçalo Waddington, Sara Carinhas, João Pedro Bénard, Maria do Céu Ribeiro, Matamba Joaquim, Romeu Runa e Cirila Bossuet. Tem a participação especial de Beatriz Batarda e Albano Jerónimo.
Conteúdo patrocinado por Uma Pedra no Sapato.