Bardino: ‘Há obviamente muito do universo cinematográfico e literário que nos influencia’

por Comunidade Cultura e Arte,    4 Janeiro, 2018
Bardino: ‘Há obviamente muito do universo cinematográfico e literário que nos influencia’
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Acabamos o ano e começamos o próximo com os habituais balanços que o ego nos exige, tal como a sagrada Internet. Mas em vez das listas e ‘tops’, como manda a tradição cibernética, falamos com uma das banda revelação de 2017, sabendo de antemão que são já uma certeza neste ano que começa. Senhoras e senhores: Bardino.

Os Bardinos são para nós uma das promessas de 2018 mas antes que nos agradeçam: ganhar este título antes de começar a dar concertos não é “chunga”?

É, na verdade, uma bonita surpresa e ficamos muito contentes que o EP esteja a ser apreciado. Esta ausência de concertos foi premeditada, queríamos ir para a estrada apenas depois de gravarmos o EP. Esperamos que os concertos façam jus ao disco e que no final de 2018 não estejamos a receber o Bidão de Ouro.

Todos vocês começaram nesta coisa da música antes de Bardino nascer. Fora disso, o que fazem da vida e como começaram isto?

Somos todos da área das ciências e tecnologias, de formação e profissão, mas isto não teve nada a ver com a forma como nos conhecemos. Começa tudo com um amigo nosso que na altura apresentou o Pedro (guitarra) e o Fulgêncio (bateria) e insistiu que começassem a fazer barulho juntos. Entre hiatos e joelhos partidos, a formação foi-se compondo naquilo que é hoje.

Foi um processo algo moroso até chegarmos a uma estética que nos interessasse colectivamente, uma vez que há entre todos um leque alargado de influências às vezes muito distintas. Este registo que lançamos agora acaba por ser a conclusão dessa primeira etapa.

Existe aqui alguma cumplicidade com os projetos anteriores de cada um naquilo que acabou por ser a vossa estética sonora?

Embora não sejam de todo a maior influência, não há como o negar por completo. Há um distanciamento claro e intencional de projectos anteriores, o objetivo é obviamente fazer algo fresco e interessante.

Assim de estoura, melhor filme de 2017?

Não falamos muito sobre cinema deste ano entre nós, mas o regresso de Twin Peaks foi tema recorrente nos ensaios.

Bom, isto do filme não foi para engonhar. Tal como parte das bandas que o rock progressivo nos habituou, Bardino apresentam uma certa tensão cinematográfica,, mas sem cair naquele truque da musicalidade à Tarantino. Quais foram as principais influências a actuar na composição deste disco?

Não há no nosso processo criativo nenhuma intenção clara de musicar imagens, esse lado visual está implícito na génese da música. Há obviamente muito do universo cinematográfico e literário que é influência para nós e acaba sempre por pairar no que fazemos. Curiosamente, em ensaio, chegamos a tocar uma versão da Lujon do Henry Mancini, que é um conhecido mestre de bandas sonoras.

Para além disso, influenciou-nos muito todo o processo em torno da gravação do disco. Foi uma produção nossa, gravado num sítio brutal com vista para Lamego. Foram dois fins de semana com nuances de espiritualidade e muita taina, claro.

Este EP tem 20 minutos de viagem instrumental. Navegam pelo ‘Fusion’ com traços de anos 70 ali no rock psicadélico e no jam-rock. É no improviso sem versos e refrões que Bardino pertence?

De certa forma sim. Trabalhamos estruturas e temas que consideramos interessantes deixando espaço ao improviso e interação. São dois aspetos que nos interessam muito na música. As músicas deste EP foram trabalhadas maioritariamente em formato jam-session, sobretudo porque uma ou outra coisa pertencem a uma fase de experimentação em que nos fomos conhecendo. Este processo manteve-se, mesmo quando chegam aos ensaios temas mais estruturados, o arranjo é sempre trabalhado em conjunto.

O pessoal que veja um concerto vosso terá, de certeza, montes de nomes diferentes que associe como referência ao som que vocês criam em palco. Quais são as bandas que surgem a vocês no momento de caracterizar Bardino?

Sinceramente este é um exercício que não nos interessa muito fazer, preferimos deixar isso para quem nos ouve. Não que tenha algo a ver diretamente com o disco mas podemos dizer que houve três coisas que ouvimos bastante, todos mais ou menos na altura em que produzíamos este EP: o disco Black Focus de Yussef Kamaal, a sessão dos ADHD para a KEXP e o Nonagon Infinity dos King Gizzard & the Lizard Wizard.

Começamos isto a brincar um bocado com a vossa “virgindade” a nível de concertos, mas sabemos bem que em 2018 vão começar a  “esgalhar” como se diz no Norte. Que planos têm em agenda?

Temos à porta o concerto no Look Closer Sessions Go Live!, a convite do André Macedo que gravou uma sessão no Teatro de Vila Real, onde tocamos o EP inteiro e ainda uma malha bónus escondida. Para 2018 temos já algumas datas de apresentação do disco em sítios interessantes que ainda não anunciamos, vamos tentar repartir o tempo do próximo ano entre concertos e composição.

Por fim e antecipando o futuro, quais destes 3 cenários vos parece mais viável em 2018?

  1. a) A continuação da miséria de títulos do Futebol Clube do Porto;
  2. b) O estalar da guerra entre a Coreia do Norte e sei lá, um país qualquer;
  3. c) Bardino a lançarem o sucessor deste lindo EP?

O futebol é um tema raro entre nós porque o Pedro não deixa, mas há um forte interesse no próximo Benfica x Sporting. Por isto, e porque não queremos tecer opiniões públicas sobre questões de geopolítica, podemos dizer que estamos já a compor para o nosso próximo disco. Não nos queremos atravessar com grandes promessas, vamos aproveitar os concertos para testar algumas coisas e ver como corre o primeiro semestre de 2018.

Entrevista por: Luís Dixe Masquete
Fotografias por: Look Closer Sessions

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