Basta um livro, na hora certa…

por Marta Teixeira,    3 Junho, 2025
Basta um livro, na hora certa…
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Está a ler-se mais. Não o suficiente para estarmos passivos, mas o bastante para não dizermos que tudo está perdido. O último estudo da APEL mostra-nos que a faixa etária entre os 15 e os 24 anos foi a que mais leu (face ao ano anterior). Isto será motivo de ânimo para todos, mas continua a ser manifestamente insuficiente porque os hábitos de leitura dos portugueses continuam a posicionar-nos na cauda da Europa.

Esta geração (em que me incluo) é ansiosa. Vive a duas velocidades: encurralada entre a hiperexposição das redes sociais e a necessidade de quebrar este ciclo para salvaguardar a sua saúde mental. E se o livro fizer parte desse processo — dessa pausa?

O livro em papel não é um fetiche, nem um luxo. É um antídoto, um convite ao tempo. Enquanto o digital acelera, o livro abranda. E é neste contraste que reside a sua força. Ler não é apenas aceder a um conteúdo: é entrar noutro ritmo, noutro espaço, imergir numa dimensão que nenhum scroll infinito consegue replicar. Mas tudo isto pode ser conciliado: quantos de nós não chegámos a um livro por causa de um vídeo ou por uma citação que vimos no Instagram?

A leitura não tem de ser uma prática solitária ou elitista. Pode ser um hábito vivido com entusiasmo e partilha. Pode acontecer entre amigos, numa livraria, num café ou num story de Instagram.

As redes sociais são a ponte, não o destino. Não precisamos de escolher entre literatura e redes sociais. Podemos usar o Instagram, o Threads, o TikTok ou o YouTube como portas de entrada no mundo dos livros. Não para os substituir, mas para despertar a curiosidade. Se as redes sociais nos mostram o que as pessoas sentem e seguem, então é ali que a leitura pode ressurgir, com uma nova linguagem.

Assistir a um vídeo no TikTok pode não ser sinónimo de leitura, mas pode ser o que faz alguém ficar interessado em (re)descobrir um clássico. Um meme pode não ensinar literatura, mas pode relembrar que ela ainda é relevante. E tudo isto cabe num intervalo, numa viagem de comboio ou numa noite de insónia, em que tudo abranda.

O futuro da leitura pode não ser linear, mas o livro continuará a ser o seu coração. Saibamos escolher parar para descobrir novos ritmos. A leitura não morreu. Só está à espera de que a voltemos a viver, à velocidade de um virar de página.

Porque, às vezes, basta um livro, na hora certa, para mudar tudo. E se fosse agora?

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