‘Beat Generation’: A exposição que queríamos ver em Portugal

por Linda Formiga,    5 Outubro, 2016
‘Beat Generation’: A exposição que queríamos ver em Portugal
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Estivemos no Centro Pompidou em Paris para a BEAT GENERATION, uma das exposições mais interessantes que vimos nos últimos tempos e que adoraríamos ver em Portugal.

A Geração Beat foi um movimento literário e artístico que surgiu nos finais dos anos 40 nos EUA, após a 2.ª Guerra Mundial e no início da Guerra Fria. Escandalizou a América puritana da era McCarthy, prenunciando a revolução cultural e sexual dos anos 60.  Ao rejeitar os ideais tecnológicos, racismo e homofobia do Ocidente e defendendo uma nova ética tribal e a utilização de psicotrópicos, inspirou directamente os eventos de Maio de 1968, a oposição à Guerra do Vietname e os movimentos hippie de Berkeley e Woodstock.

Inicialmente considerada pela cultura dominante como um movimento subversivo, é actualmente considerado um dos movimentos culturais do século XX. As obras literárias deste movimento são hoje obras incontornáveis da literatura americana. O termo “beat” (que significa pobre ou sem-abrigo) foi assim perpetuado pelo mito romântico e boémio da geração perdida.

A exposição patente no 6.º piso do emblemático Centro Pompidou em Paris está dividida de forma cronológica e por vários locais onde o movimento Beat teve maior destaque como Nova Iorque, Califórnia e Paris.

Com início em Nova Iorque, podemos encontrar vários desenhos e pinturas de Jack Kerouac (que são relativamente desconhecidos) e o filme Pull my Daisy (1959), baseado no poema colectivo de Kerouac, Ginsberg e Cassady, resumindo o espírito de colaboração do movimento Beat. Nesta parte é também possível ver uma versão provisória da obra maior do movimento Beat On the Road de Jack Kerouac intitulada American Times, que consiste num texto dactilografado num rolo de papel de vários metros.

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Passando para a Califórnia, onde as colaborações e relações desenvolvidas entre artistas, poetas e músicos se tornaram característica prevalecente na cultura alternativa dos anos 50 e 60, podemos ver vários documentos, nomeadamente fotografias de Charles Brittin e livros impressos pela City Lights. Fundada por Lawrence Ferlinghetti e Peter D. Martin, a City Lights teve destaque nacional com a publicação de Howl and Other Poems (1956), considerado obsceno pelo Tribunal de São Francisco, posição essa que foi posteriormente revogada. Sessenta anos depois, a City Lights continua a ser bastião da liberdade de expressão no bairro North Beach em São Francisco.

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Na exposição podemos ainda ver pósteres que povoam o nosso imaginário, o vídeoclip de Bob Dylan Don’t Look Back, manifestos, fotografias, escritos. A exposição termina em Paris, onde vários poemas de Ginsberg, Burroughs, Gysin e Corso foram escritos no Beat Hotel, entre 1957 e 1963. É também possível ver a reconstrução do quarto 25 do Beat Hotel ocupado pelo pintor e escritor anglo-canadiano Brion Gysin. Este último concebeu, no final dos anos 50, a Máquina dos Sonhos, que consiste num cilindro de papelão com cortes e uma lâmpada de 100 watt, rodando sobre si mesmo a uma velocidade de 78 rpm com um motor de um gira-discos. Descrito como o primeiro objecto de arte a ser observado de olhos fechados, o efeito de luzes reproduzido por este caleidoscópio multidimensional pretendia produzir um efeito alucinogénio.

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A exposição BEAT GENERATION permite ter uma visão aprofundada sobre uma geração que marcou o mundo e a geração que nasce nessa altura (baby boomers). Marginal ou não, o mundo ocidental nunca seria o mesmo sem este movimento e conhecê-lo é essencial para percebermos o mundo de hoje.

Fotografias de Linda Formiga

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