Beatriz Batarda estreia “exercício fantasioso e trágico” sobre ensino e medos no Teatro S. Luiz
“C., Celeste e a primeira virtude”, que a atriz e encenadora Beatriz Batarda estreia hoje, no Teatro Municipal S. Luiz, em Lisboa, tem por tema o ensino superior, sobretudo a educação nas artes, como disse a autora à Lusa.
A peça “C., Celeste e a primeira virtude”, porém, é também um exercício “fantasioso e trágico” do que “são os medos”, explicou à Lusa a criadora do espetáculo.
O ensino superior, em especial o ensino superior artístico e o modo como este constitui “um lugar de choque entre gerações”, dominam a ação, com esse choque “aqui exacerbado pelo contexto mais urgente que assola os mais novos, que é o das alterações climáticas”, acrescentou a atriz.
Trata-se de um combate entre gerações que é “cíclico” e que surge aqui de um “desejo de reflexão” dos 17 anos dedicados pela atriz ao ensino artístico, resultando também da recolha de testemunhos de 43 alunos ao longo de dois anos, acrescentou.
O desejo de fazer um balanço entre a professora que se tornou e o caminho que procura daqui para a frente estiveram na base do espetáculo, com o qual a atriz não pretende dar respostas, mas antes levantar questões.
Entre eslas está “alguma intransigência na forma quantitativa como se continua a avaliar os alunos”, em detrimento de uma avaliação qualitativa, observou.
Reconhecendo que a avaliação qualitativa é difícil de pôr em prática no ensino de algumas artes, a atriz equaciona ainda em “C. Celeste, a primeira virtude” a “dificuldade de comunicação” com que muitas vezes alunos e professores se confrontam, e que reside na “dificuldade em separar o que é transmissão de recursos e fomentar de autonomia”, argumentou.
“C., Celeste e a primeira virtude”, disse Beatriz Batarda, joga-se em torno do espanto, que é a primeira virtude e que consiste na “vontade de aprender e de se mostrar aos outros em vez de se fechar sobre o próprio trauma”.
A memória “só é livre quando compreendemos o trauma; quando conseguimos compreender aquelas pedras com que nos deparamos pelo caminho”, disse, considerando que o ensino artístico abre caminho para a “invenção de lugares mais felizes” onde não se instalem medos.
Com um filme e a pandemia de covid-19 pelo meio, “C., Celeste e a primeira virtude” foi um projeto desenvolvido ao longo de dois anos elaborado em conjunto com os seus alunos “numa espécie de agradecimento” com o que tem aprendido com estes enquanto professora do ensino superior.
Enquanto espectáculo sobre a “reinvenção” e a vontade de “ser melhor a cada dia”, os testemunhos recolhidos juntos dos 43 alunos que participaram nos laboratórios de escrita criados para o espetáculo serão também mote a uma instalação vídeo, intitulada “Corpos Celestes”, patente na sala Bernardo Sassetti durante a carreira da peça.
Um projeto “em cinco janelas” que resulta da pesquisa conduzida pela protagonista de “Great Yarmouth: Provisional figures” a propósito da natureza da geração “pós-millenial”, a chamada geração Z, e que pensadores e filósofos contemporâneos chegaram a classificar como “a geração da grande mudança anunciada”.
A peça “C., Celeste e a primeira virtude” tem texto e encenação de Beatriz Batarda, que também interpreta, e apoio à dramaturgia de Nuno M Cardoso.
A interpretar estão ainda Binete Undoque, Guilherme Félix, Hugo Narciso, Íris Runa, Joana Pialgata, Pedro Russo e Rita Cabaço.
O desenho de luz é de Nuno Meira, a cenografia de Fernando Ribeiro, os figurinos de José António Tenente, o vídeo e a assistência à criação de Rita Quelhas, e a pintura de mural de Constança Villaverde Rosado.
A peça fica em cena na sala Mário Viegas até dia 22. De hoje a sábado e nos dias 21 e 22, as sessões são para o público em geral e começam às 19:30.
As récitas para escolas decorrem de dia 18 a 20, com sessões às 14:30, mediante marcação, tendo como público-alvo alunos do ensino secundário.
No dia 22, há tradução em Língua Gestual Portuguesa.
O espetáculo integra-se na Bienal Cultura e Educação 2023 Retrovisor: Uma História do Futuro, do Plano Nacional das Artes.