Bon Iver, a história

por João Jacinto,    22 Fevereiro, 2017
Bon Iver, a história
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Em 1854, depois de 2 anos, 2 meses e 2 dias isolado numa cabana ao largo do lago Walden em Massachusetts, Henry David Thoreau publicou o livro Walden. O autor embarcou assim numa viagem espiritual, através da qual pretendia entender a sociedade que o rodeava bem como a si próprio. Thoreau foi processo e produto do período romântico americano.

Cerca de 150 anos depois, Justin Vernon decidiu, também, hibernar durante o Inverno, na cabana do seu pai, no Wisconsin. Com o fim de uma longa relação amorosa e simultaneamente o terminar de um projecto artístico, Vernon isolou-se por três meses. Isolamento que resultou em nove músicas incluídas em For Emma, Forever Ago. Foi também nessa cabana que Vernon se tornou Bon Iver. Literalmente e propositadamente mal escrito, “Bonne Hiver – Bom Inverno”.

O álbum For Emma, Forever Ago cantado em falsetto e com melodias sólidas, transmite exactamente a purga pretendida por Vernon. O som orquestral e solitário de quem está isolado numa cabana no pico do Inverno. Skinny Love, o primeiro single deste álbum, é a epítome da catarse que Vernon procurava, onde a honestidade e a perda se prolongam por três minutos e 58 segundos. O álbum foi oficialmente lançado pela Jagjaguwar a 19 Fevereiro de 2008, tendo sido aclamado pela crítica e figurando como o 92.º melhor álbum da primeira década do século XXI na revista Rolling Stone.

Sobreviver ao primeiro álbum é a grande prova de fogo de qualquer novo projecto musical. Existem expectativas por parte da crítica bem como por parte dos novos admiradores, e esta prova Vernon ultrapassou. Bon Iver – Bon Iver foi o segundo trabalho apresentado em 2011. Nesta segunda incursão, Vernon apresentou 10 novas músicas. Estas foram gravadas numa clínica veterinária em Fall Creek, Wisconsin, comprada e remodelada em 2008 por Vernon e pelo irmão, e que se tornou oficialmente nos April Base Studios. Este segundo álbum mantém também a temática do primeiro álbum, sendo introspectivo e de índole pessoal. Contudo, temos mais que a guitarra acústica e a voz de Vernon, existindo colaborações com outros artistas que ajudam a realçar a visão pretendida para o álbum.

Com o segundo álbum chegaram as nomeações para a 54.ª edição dos Grammys em 2011, nomeadamente para “melhor novo artista”, “melhor álbum de música alternativa”, “música do ano” e “melhor álbum do ano”. Bon Iver foi bem sucedido e ganhou os prémios de “melhor novo artista” e “melhor álbum alternativo”.

Deste modo Justin Vernon, conhecido agora como Bon Iver, torna-se num dos artistas que, sem ter feito por isso, transporta a bandeira do género Indie, popularizado nas duas primeiras décadas do século XXI.

Cinco anos depois do seu grande sucesso Bon Iver apresenta-nos 22, A Million, o terceiro álbum que quase não viu a luz do dia e que marca uma série de tumultos pessoais de Justin Vernon, no seguimento do sucesso alcançado com os dois primeiros álbuns. Porém, não se deixou intimidar pelos Grammys e seguiu sem medo uma trajectória diferente dos anteriores.

De camisa de flanela, cabelo e barba desgrenhados, aos 35 anos Justin Vernon tornou-se uma referência incontornável do panorama musical actual, tanto individual como colectivamente. E tudo começou numa cabana isolada onde, tendo ou não lido Walden, Vernon embarga o romantismo americano e mostra que este continua vivo e de boa saúde.

Apesar do cancelamento por motivos pessoais de quase 20 datas da tour europeia, a página oficial do artista continua a garantir a presença dos Bon Iver no festival NOS Primavera Sound, que irá decorrer no Porto no dia 9 de Junho. A data torna-se assim mais apetecível para o público português, que tem uma oportunidade escassa de ouvir o artista ao vivo por terras lusas.

Fotografia de artigo: D.L. Anderson

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