Bons Sons, novos ciclos

por Luis Sousa Ferreira,    14 Janeiro, 2020
Bons Sons, novos ciclos
Fotografia de Carlos Manuel Martins
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Sempre gostei de efemérides. Sempre gostei de celebrar datas e acontecimentos. São momentos de encontro e de reflexão. São oportunidades para firmar os pés e dar impulso para uma nova fase.

Em 2019, o Bons Sons celebrou dez edições e encerrou o seu segundo ciclo. Uma edição esmagadora que trouxe à tona o seu manifesto e a razão da sua existência. O Bons Sons sempre foi um camaleão. Sendo fiel aos seus princípios, foi somando escala e adaptando-se às necessidades internas e externas. Sempre foi um festival do hoje.

Estive 13 anos dedicado de corpo e alma a este projeto e a Cem Soldos. Esta aldeia, que hoje é um pouco de todos, sempre me deu o sentido. Pertencer a um lugar dá-nos um ponto fixo para orientarmos o nosso progresso. Dá-nos uma morada para regressar, dá-nos uma pousa. Cem Soldos é a minha casa e será sempre. O Bons Sons foi a maior aventura. Um projeto de amigos que se tornou uma instituição. Um hobby que ocupou a maioria dos finais de dia, dos fins-de-semana e das férias. Um projeto que fizemos crescer e crescemos com ele.

Reconciliar o público com a música que se faz em Portugal, Viver a Aldeia e abrir o campo à contemporaneidade eram e são os grandes desígnios do Bons Sons. Para mim, o que me movia era a capacitação das gentes da aldeia. Era o desafio pesado, o fazermos em conjunto e partilharmos os medos e as alegrias. Eram as noitadas duras, animadas por um copo com amigos. Não há evento como este em parte alguma de Portugal. Trabalhamos como os grandes, sem estrutura e a pensar nos pequenos detalhes.

É por esta capacitação que hoje não agarro o novo ciclo do festival.

Muitos jovens cresceram com o Bons Sons, não conhecem a aldeia sem a sua existência. O festival orientou as suas saídas profissionais, gostos e interesses. Vi tantos e tantos a superarem-se e a fortalecerem o seu ego. Estes chegam hoje aos lugares de direção artística, à programação, às coordenações logísticas, técnicas e de bilheteiras. À coordenação dos planos de emergência, às construções e às várias ações de comunicação. Começamos um novo ciclo com a confirmação de que estávamos certos.

Em Portugal continuamos a fulanizar a cultura. O Bons Sons, uma vez mais, mostra que está na frente. Precisamos de construir estruturas que vão para lá de nós e dos nossos afazeres.

Estou certo que se adivinha um novo ciclo com tudo o que isso tem de bom. Estou certo que vou continuar a rebentar de orgulho por todos estes jovens que têm sangue na guelra e agarram o futuro de frente.

A vós só tenho de agradecer todo o apoio prestado ao longo destes 13 anos. Não há nada mais bonito do que sonharmos em conjunto. Obrigado!

Texto de Luís Sousa Ferreira
O Luís é diretor do 23 Milhas, projeto cultural do município de Ílhavo. Fundador e diretor artístico do Bons Sons entre 2006 e 2019. Foi comissário do Caminhos do Médio Tejo, programa cultural em rede em 13 municípios, entre 2017 e 2019. Trabalhou no Centro de Estudos de Novas Tendências Artísticas e na experimentadesign. Em 2018, foi Membro do Grupo de Trabalho de Aperfeiçoamento do Modelo de Apoio às Artes e, desde 2019, é Membro do Conselho Consultivo Portugal Expo 2020 Dubai. Co-criador do colectivo cultural -mente.”

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